Santarém, a primeira grande clássica da temporada 2009, superou fortemente as expectativas, demonstrando, desde já, inesperada adesão, de dentro e de fora do grupo Pina Bike, a esta nova série de voltas domingueiras com características especiais, mais exigentes, que nos propusemos a cumprir ao longo deste ano.
Foi um pelotão muito bem composto – com mais de três dezenas de ciclistas – que se fez à estrada, partindo de Loures a caminho da capital escalabitana, por percurso de 155 km quase sempre plano e com as (poucas) dificuldades reservadas para a segunda metade. Pelotão bem composto, não apenas pelo número de unidades, mas também pelo nível qualitativo, integrando estreante conjunto de «outsiders» proveniente de Pêro Pinheiro e outros mais assíduos este ano, defendendo as cores de Negrais, que vieram a revelar categoria apreciável, contribuindo com competitividade e sã camaradagem para o sucesso do evento. Uma agradável surpresa, que deixa antever novas oportunidades de encontro.
O andamento nos primeiros quilómetros foi ligeiramente superior a 30 km/h, sempre em pelotão compacto, cumprindo-se a ligação a Vila Franca de Xira sem sobressaltos. A passagem pelo empedrado também não trouxe mexidas, tal como a travessia da ponte Marechal Carmona e todo o longo trajecto que nos levou a Santarém, por Porto Alto, Samora, Benavente, Muge, Benfica do Ribatejo e Almeirim. Moderação e andamento certo, apesar de, gradualmente, ter aumentado (Benavente-Muge: 35 km/h; Muge-Almeirim: 37 km/h) com a aproximação à primeira dificuldade de relevo do dia: a subida das Portas do Sol (1,5 km a 4,7%).
Na primeira metade da ascensão meti o ritmo, fazendo alongar o pelotão e criando na frente a selecção dos mais fortes. No entanto, foi o Paulo Pais a «mexer» com o alinhamento, acelerando em acção que obrigou os «galos» a cerrar fileiras. O primeiro grande esforço da tirada permitiu, acima de tudo, retirar azimute à capacidade de uns e outros. Conclusão: muitos demonstraram tê-la! Mais do que (eu) esperaria.
Após a neutralização em Santarém, para reagrupamento – perdão, para alguns aproveitarem para (des)reagrupar, antecipando a saída... –, partiu-se para a derradeira fase da jornada, que se previa (e confirmou) ser a mais exigente e rijamente disputada.
Um furo antes de Vale de Santarém refreou o ímpeto, obrigando a um compasso de espera. Mas só durante alguns minutos, ainda a tempo de se atacar a fundo a curta subida que atravessa a localidade. Tomei a iniciativa mais uma vez e o pelotão voltou a estirar-se, embora longe de acusar desgaste, pois, na aproximação ao topo, sucederam-se os golpes e contra-golpes, sempre com resposta eficaz do grosso da coluna.
Por estas alturas, o Jony e o Freitas mostravam-se bastante activos, partilhando uma ou outra situação que colocou a cabeça do grupo em estado de alerta. A movimentação mais vistosa e consistente, fez o Jony na rampa à saída do Cartaxo, tendo, pela primeira vez, deixado, sem capacidade de resposta imediata, todos os restantes. Todavia, não teria seguimento e o figurino manteve-se como até aí: pelotão compacto, algo desgarrado e sem ritmo certo e duradouro. Creio que excesso de ansiedade e alguma desconfiança por desconhecimento no seio do pelotão principal teve influência no normal decurso da tirada, não se justificando tantos temores quando ainda faltavam tantos quilómetros.
Entre esticões e picardias, lamentou-se uma queda aparatosa, felizmente sem consequências graves para o acidentado, embora impedindo-o de continuar em acção, subindo ao carro de apoio. Entre Santarém e o Cartaxo rolou-se à média de 35 km/h – apenas razoável, mesmo considerando o constante sobe-e-desde do terreno e os constantes repelões do andamento. Do Cartaxo a Azambuja, fez-se 36 km/h.
Pouco antes de Vila Nova da Rainha deu-se o ataque que, considero, ter marcado um ponto de viragem na tirada. Mais do que poderá ter parecido. Deu-se, quando o Paulo Pais (após perguntar-me sobre o percurso que faltava...) desferiu um bom golpe que lhe permitiu isolar-se, levando o Freitas na sua roda, a responder prontamente. Estaria o autor da façanha com pretensões que a iniciativa durasse até final? Os dois ganharam metros com rapidez e obrigaram, pela primeira vez, as hostes no pelotão a agruparem-se na perseguição – a mais empenhada e a exigir cooperação até àquele momento.
Só por isso os fugitivos nunca tiveram mais de 200/300 metros de vantagem, sempre controlados, mas exigiram aos homens de Pêro Pinheiro e de Negrais que assumissem as operações, exibindo a sua organização.
O final da aventura do duo chegou à passagem pelo Campera, no Carregado. E foi seguido por novo ataque, agora do André e do Hugo (o baixo), de Negrais, que beneficiaram da desorganização gerada pela barafunda do trânsito e pelo cruzamento com a EN10, dentro do Carregado. Mais: ainda se deu a coincidência de por aí passar o tradicional grupo de jovens triatletas, no qual os dois fugitivos apanharam uma conveniente boleia.
Por esses motivos, cá atrás gerou-se algum nervosismo – desproporcionado para a situação, creio. Mas o Freitas e o Jony não estavam pelos ajustes, tomaram as rédeas e muito antes de Castanheira já tinham fundido (eu disse, fundido...) os dois pelotões. Entre Azambuja e Vila Franca: 35,5 km/h.
Na segunda passagem pelo «pavé» nada sucedeu, mas a chuva que começou a cair à saída da cidade dos «touros e toureiros» não arrefeceu os ímpetos. Pelo contrário, lançou definitivamente a tirada para a fase decisiva, e logo com a movimentação determinante que permitiu isolar o Paulo Pais, o Jony, o Filipe de Negrais e o Ruben. O quarteto ganhou paulatinamente vantagem sobre o já bastante reduzido pelotão, que às tantas pareceu resignado.
Face ao prolongamento deste cenário, chego-me à cabeça do grupo (onde já não estava há longos quilómetros – talvez desde o Cartaxo... protegido de uma toada que me desgasta bastante, principalmente em terreno plano: os esticões) e ouço reprimenda do Freitas pela minha falta de comparência em altura tão decisiva. Dizia-me, que perdera oportunidade única de entrar na fuga....que poderia ser certa! Num primeiro instante tratei de desdramatizar, respondendo-lhe, com convicção, que os fugitivos não iriam longe...
Mas os quilómetros que se seguiram demonstraram que quem estava certo era... ele! De tal modo, que, depois de Alverca vi-me na contingência de ter de assumir a perseguição, sabendo que estaria a expor-me a esforço que certamente pagaria. Até à rotunda de Sta. Iria, ao início da subida dos Caniços, o meu voluntarismo só tinha possibilitado manter a distância (que rondava os 30 segundos) para o quarteto (que ali perdia um elemento: o Ruben).
De qualquer modo, na abordagem à subida já tinha interiorizado que não haveria volta a dar: devia jogar tudo por tudo, tentando anular (ou condenar...) a fuga já naquele troço, correndo o risco (muito provável) de hipotecar possibilidades de disputar a parte final; ou apostar que o meu andamento pudesse também causar desgaste aos demais elementos do grupo. Resultado: aconteceu a primeira hipótese, mas, felizmente, não as consequências físicas tão nefastas que temia.
O Paulo Pais e o Felipe foram absorvidos no final da subida, e o Jony, que se tinha adiantado, foi «apanhado» algumas centenas de metros mais adiante, agora sob perseguição partilhada entre o «chefe-de-fila» de Pêro Pinheiro (bom atleta) e o Hugo (alto) de Negrais (idem) – que assim revelavam as suas ambições.
Novamente em pelotão (já não restavam mais de 10 elementos) compacto, ainda houve alguns ataques ténues, prontamente neutralizados. Até que, na abordagem ao topo do viaduto do nó da CREL (Variante junto ao Tojal) aproveitei a desaceleração do grupo e forcei o andamento pela esquerda, saindo em progressão mas sem sinais de resposta. Passando o «caroço», piquei para a descida que leva ao segundo topo e a nova descida para a Rotunda das Oliveiras (Tojal), ainda apercebendo-me de não haver iniciativa de perseguição.
Todavia, sabia que passar São Roque isolado ainda não garantia chegar isolado a Loures, mas quando me fiz, com réstia de forças, à subida para a rotunda do Infantado, soube que não iria ser apanhado.
Antes de chegar ao final, ainda «cumprimentei» alguns dos resistentes que se tinham despachado mais cedo em Santarém. O grupo chegou logo a seguir, em sprint desenfreado, com o Freitas à cabeça. Quiçá a antever o desfecho da próxima superclássica, a rainha da planície – Évora, no próximo dia 29.
Média final: 34 km/h
No próximo fim-de-semana, no sábado reitero o convite para uma saída bastante interessante, dura, como o próprio nome indica: Roteiro dos Muros.
O grupo do «Quebra-2009» já confirmou presença, que se justifica, para criar rotinas de subida... e sofrimento!
Local de encontro: BP de Loures
Hora: 8h30
No domingo, a volta de grupo é para o Gradil.
Informações detalhadas sobre estas tiradas, a partir de amanhã.
Sem comentários:
Enviar um comentário