Montejunto foi uma óptima jornada de montanha, que motivou vasta romaria àquelas paragens, as mais elevadas da nossa região. A vertente de Vila Verde dos Francos, a mais acessível, foi eleita e nela ficaram evidentes as diferenças de rendimento entre os que beneficiam de genética adaptada ao esforço em longas subidas com grande inclinação, os que, mesmo sem a ter, gozam de bom momento de forma, e todos os outros que actualmente (ou sempre...) fazem pela vida!
À dificuldade da própria ascensão – embora como disse, a menos exigente das quatro da serra – junta-se a do trajecto até lá chegar. Mais ainda, quando se reúnem elementos empenhados em conduzir desde cedo o grupo em andamento moderado a forte, tal como o vento.
A subida para o Forte de Alqueidão – quando «negociada» nestes modos – causa os primeiros desgastes da tirada, revelando o poderio (ou a coragem...) dos mais fortes enquanto expõe as debilidades dos remediados. Entre os primeiros esteve (e está!) o Carlos Gomes, sem dúvida o mais activo de Bucelas às serranias do Sobral, ao levar a bom ritmo o pequeno grupo, que contava ainda comigo, com o Freitas, o Gil, o André, o Salvador e o «nosso» brasileiro.
Em Arranhó juntou-se o Rocha, e já depois do Alqueidão, o Paulo Pais, o Runa, o Vasa e o Xico. Estava composto o «ramalhete» que rumaria ao sopé da montanha, e que, a espaços, se deixou cair nalgumas picardias que, após a Atalaia, acabaram por destacar, na frente, o duo Gomes e Runa. E que, assim, entraram na montanha com substancial vantagem: cerca de 30 segundos sobre o Vasa que, entretanto, se «revoltara» com o estranho bailados de alguns esquemas tácticos individuais. Uns para a frente, outros para trás: o Salvador em decisivas dificuldades, logo à saída da Merceana.
A abordagem às primeiras, e duras, rampas de Montejunto poderiam ser suficientes para separar desde logo as águas no grupo perseguidor, mas só eu e o Rocha dele «transbordámos», ambos a léguas do andamento necessário para seguir, logo ali, com os principais protagonistas. E ele (Rocha) de uma forma ainda mais evidente...
Entre grupo de perseguidores, o André começava a ensaiar desde cedo as suas manobras de desgaste, com breves mais fortes acelerações, que, estranhamente, levaram o Freitas no engodo – o único a responder, à letra, com isso se desgastando. Todavia, após o primeiro quilómetro, a toada acalmou e o grupo passou a ser liderado, em andamento certo, pelo Chico e pelo Paulo Pais. O Vasa era, entretanto, reabsorvido, mantendo apenas o duo de fugitivos.
Depois da passagem pela zona sinuosa dos pinheiros, constatei (à distância, claro...) que, no grupo, o André se tinha adiantado definitivamente, partindo isolado ao encalço do Gomes e do Runa, duo que acabou por alcançar já numa fase em que o primeiro começara a descair – talvez pagando a factura do seu esforço adicional na subida do Alqueidão. O Runa e o André, segundo este, não se hostilizaram, acabando por chegar a par, e claramente destacados dos demais.
Atrás, e bem atrás, ganhava inesperada e conveniente boleia: do Zé-Tó, que acabava de «largar» o seu pai ladeira... abaixo. A sua presença foi «música» para as minhas fraquezas. Literalmente, pois fazia ouvir-se, alto e bom som, o som proveniente de um leitor que transportava no bolso. Insólito, mas para passar melhor as agruras da montanha tudo é permitido!
Seguimos (segui...) em ritmo pausado (o que foi possível) e acabámos por alcançar o Gil, que tinha perdido o comboio do grupo principal, este também já muito estirado no último sector, após o cruzamento. Tempo pessoal de subida: 29 minutos. Muitíssimo mau, considerando também a pulsação média de 170 bpm. Naquele registo, em condições normais, o coração não deveria bater a mais de 150/155 – dados reveladores do «poço» de forma em que estou imerso há quase dois meses, sem iminente salvação.
Salvaram-se as razoáveis sensações no percurso de regresso – por Abrigada/Alenquer/Vila Franca –, e de físico não ter acusado o esforço, em demasia, no final de 140 km e 5h00 de pedalada.
Foram muitos os ciclistas que, partindo de Loures, a horas distintas, subiram em Montejunto naquela manhã, e quase todos tocaram o... céu: ou o «obrigatório» portão do quartel, no cume, a 650 metros de altitude. Quando ascendíamos, já baixavam, entre outros: Steven, Samuel, o Polícia, João do Brinco, Zé Henriques. Mais uma vez a optar por anteciparem a sua saída de Loures para se prevenirem dos «maus-tratos» do «outro» pelotão. Opinião pessoal: creio que, neste domingo como em todos, não seria grande a diferença entre o grande grupo partir em simultâneo e eventualmente, mais tarde, se necessário, haver recomendável ou forçada adaptação de andamentos ao longo do trajecto (mesmo que logo nos primeiros quilómetros...), e o arranque desfasado, que acaba em encontros fugazes repetidos todas as semanas. Não se pode exigir consenso na abordagem ao ritmo das voltas (é causa perdida à nascença), mas sim o esforço, de todos, por não deixar perder definitivamente a unidade do grupo. Acima de tudo, numa altura em que é notório maior nivelamento entre as facções. Mais do que o agrupamento à chegada – que de resto nunca existiu desde que tenho memória de presença no grupo –, é a antiga e tradicional reunião, à partida das bombas, a poder representar o primeiro passo para a inversão dos acontecimentos. Mesmo que apenas... simbólico!