quarta-feira, dezembro 16, 2009

Crónica de Torres

Terá sido por estar farto de percursos planos que foram impingidos, em antecipação ao final da última temporada, contra a fartura de subidas, que celebrei com especial satisfação o regresso ao carrossel da zona Oeste – na tradicional volta de Torres Vedras.
Custar-me dizer «farto», porque considero que são os vastos terrenos para rolar os mais indicados para criar as bases da boa forma física. Mas não da maneira como têm sido atravessadas as lezírias ribatejanas neste final de ano, quase sempre «prego a fundo», contra vento e tempestades.
E contra... a minha forma física, ainda debilitada. Não, porque a considero abaixo do normal para esta altura (pelo contrário!), mas por levar-me a sofrer com as elevadas intensidades (cujo treino não tem incidido minimamente) de tão pesadas cargas impostas por alguns poderosos do Inverno, que certamente pagarão a devida factura na próxima Primavera-Verão. As consequências do encadeamento de tareias nas planícies forçou-me mesmo a uma paragem preventiva no segundo fim-de-semana de feriados, impedindo-me de aproveitar boas oportunidades de acumular horas de selim, tão recomendáveis nesta fase.
Foi desse privilégio - de fazer quilómetros a ritmos moderados - que se pôde beneficiar no passado domingo, provando que, em terreno mais exigente, a intensidade das voltas tende a ser mais moderada. Ou melhor, são mais intermitentes os momentos em que aquela é forte. E isto, apesar de lá terem estado alguns dos homens que estão a dar cartas neste Inverno. Como o meu conterrâneo Capela, que desta vez esteve mais comedido e contou com muito freio, principalmente do camarada Freitas, que geriu, de forma exemplar, o andamento (o seu e o dos mais afoitos) em alturas primordiais do percurso.
Desde logo, na subida para o Forte do Alqueidão, onde manteve, à frente do pelotão, um passo que apesar de ser médio-alto (para mim, nesta altura) permitiu que todos chegassem agrupados ao topo da longa ascensão. Ainda houve algumas iniciativas para forçar o ritmo, mas o grupo preferiu manter-se na toada certa do Freitas, que, a espaços, contou com o apoio do Vítor Pirilo.
Depois da passagem no Sobral, relaxou-se até Dois Portos, elevando-se a intensidade na subida da Ribaldeira, o que faz partir o pelotão em dois grupos, que, todavia, se reuniram pouco depois, em Runa.
Então sim, entre Runa e Torres, o nível da cavalgada subiu a patamares ainda não atingidos, devido a acelerações nos pequenos topos de Matacães, da Ordasqueira e da variante dos Cucos, dividindo pela segunda vez o grande grupo. Foram momentos, digamos, que destoaram da globalidade. A ordem restabeleceu-se à entrada em Torres, possibilitando, em seguida, paragem pouco habitual para café no centro da cidade.
No reatamento, pelo tipo de relevo que se deparava, seriam previsíveis mais... dificuldades. A começar pela subida de Catefica, que, afinal, se passou a ritmo controlado, ainda e sempre marcado essencialmente pelo Freitas – mais disponível que nos últimos tempos.
Desceu-se, depois, para o Carvalhal e logo no primeiro topo do Turcifal os mais empertigados não quiseram continuar a refrear os ímpetos. Em destaque, o Capela (pois claro!), o André e o Ruben. Alguns procuraram responder, e ao esticar, o pelotão esfrangalhou-se. De qualquer modo, os fugitivos não quiseram ou não puderam insistir e deixaram-se absorver nem dois quilómetros volvidos.
Mas o ritmo vivo não esmoreceu, como que a anunciar a subida de Vila Franca do Rosário, onde se aguardariam as derradeiras intensidades mais altas. O Freitas tomou uma vez mais o comando – sempre com especial preocupação de controlar... o Capela. Fê-lo durante quase toda a subida, principalmente na sua fase mais complicada e perante o adiantamento prematuro do Carlos do Barro, que fez toda a ascensão isolado, tendo sido alcançado apenas nos metros finais, na Malveira – e só pelos mais rápidos ao sprint.
Grande desempenho do Carlos - surpreendente, numa atitude que há muito não se lhe via! Ainda mais meritória, já que o andamento do grupo principal, que se formou logo no início da subida, nunca foi baixo ou descomprometido com a perseguição (embora, às tantas, parecesse...). O fugitivo foi muito consistente e só não resistiu à aceleração do Jony, que levou o Capela e o André a ganhar ligeira vantagem ao grupo na última rampa que leva ao topo.
Outra nota de referência entre os homens do pelotão da frente: o Filipe Arraiolos, pelo facto de, na véspera, ter realizado mais de 200 km, de Tróia a Sagres, em BTT!
Da Malveira a Loures rolou-se depressa... E no topo de Guerreiros, nova surpresa! O Gil, a atacar! Sim, ele mesmo, que habitualmente prima pela discrição. Saiu muito bem e surpreendeu até o Capela, que teve apelar a ajuda. O próprio Jony teve de se aplicar para «carimbar» no alto. Neste reduzido grupo (porque muita gente se dispersou à saída da Malveira), ainda me ficou na retina a boa capacidade de aceleração do Zé-Tó – numa altura em já se fazia sentir, em todos, o peso dos quilómetros.
No meu caso, limitei-me a assistir, de trás, sem força para agarrar a «boleia» da cauda do grupo. Todavia, houve bons sinais de endurance, principalmente por as pernas não acusarem demasiado o esforço de 4 horas, no caminho de regresso a Alverca - na companhia do Jony, do Capela e do Jorge, que falou mais naqueles 15 km que em muitas centenas percorridas nos últimos quase dois meses que tem integrado as saídas domingueiras. A malta de Alverca é assim, prefere o serviço à conversa!

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