domingo, setembro 25, 2005

Ciclismo: belo e ingrato!

Ao assistir, hoje, à vitória de Tom Boonen nos Mundiais fiquei com a ideia de que o ciclismo, a nível competitivo, pode ser tão belo para os vencedores como ingrato para os vencidos. Belo para um ciclista (neste caso, o belga) que passa seis horas e meia na mais profunda discrição, escondido no pelotão, mas a quem bastou um esforço máximo de dez segundos para ganhar o título – com inteiro merecimento, sublinhe-se.
A esse respeito, Lance Armstrong tem uma teoria, no seu caso, para o Tour. «É uma corrida de 3500 km que se pode ganhar ao segundo. E esse segundo pode ser ganho a qualquer segundo». Curiosa esta afirmação do grande campeão norte-americano, perfeitamente credível, mas que nunca se aplicou, ao próprio, em qualquer das suas sete vitórias.
Mas, por outro lado, foi ingrato para dezenas de adversários que «fizeram» a corrida, trabalhando afincadamente, alguns com repetida insistência, para conseguir entrar na fuga certa, e superados em cima da meta pela força explosiva e irresistível de um verdadeiro especialista em chegadas em pelotão. Entre aqueles, destaco Paolo Bettini, Alexander Vinokourov e Alejandro Valverde – este a receber o segundo lugar como recompensa do seu esforço e da sua inegável classe, depois de, inclusive, Marco Chagas, nos seus comentários, tê-lo dado como derrotado.
Não posso deixar de referir também Bettini, pela forma descarada (e inteligente) como «engana» os adversários, tanto a furtar-se a desgastes à frente do grupo, como na escolha, quase sádica, dos momentos para atacar – e com que precisão e força o faz! Creio que teria ganho com facilidade se o circuito de Madrid fosse mais selectivo. Certamente, o italiano conseguiria fazer vingar uma fuga, provavelmente na companhia de Vinokourov, mas, mais forte na ponta final, Bettini seria o novo campeão mundial – tal como fez a Sérgio Paulinho nos Jogos Olímpicos.
Antes dos profissionais, também nós tivemos o nosso circuito domingueiro, muito semelhante em termos de relevo ao dos Mundiais – suave, feito à medida de roladores e sprinters. Mas nem por isso foi menos intenso. A velocidade foi elevada, houve ataques e… sprints. Na subida do Sobral (única subida minimamente selectiva – e não para os mais fortes!) foi impossível fazer diferenças para o Freitas, Miguel e Pedro (de Caneças – regresso que se saúda!). Hoje estava por tudo: assumi o desgaste a partir da Quinta do Paço, puxei forte e em alguns momentos cheguei a sentir que, se fosse atacado, poderia ficar em maus lençóis. Nicles! Nem o Miguel! E no final o Freitas puxou dos galões de sprinter.
Mas havia mais pratos para servir. Frios, de preferência. Na passagem por Porto de Luz, a caminho de Alenquer, com o Miguel a tirar à frente a bom ritmo, joguei forte num topo e, por instantes, pensei que conseguiria isolar-me definitivamente até Alenquer (faltavam 2 km). Ficaram todos, excepto o Freitas, que actualmente é muito difícil deixar para trás neste tipo de terreno. Chegámos isolados os dois a Alenquer e ele voltou a «matar» ao sprint. Mas o homem não passa pela frente, nem só um segundo, livra!!
Faltava ainda um sprint vigoroso com o «alvo a abater» (Freitas), à chegada a Vila Franca – muito bem lançado pelo João Pedro (subida de forma notória) e Miguel —, que deu empate técnico. Nada mau!

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