segunda-feira, setembro 19, 2005

Espectáculo na Serra!

A subida da Serra da Estrela, no último domingo, confirmou as melhores expectativas, proporcionando despique e emoção de ciclismo puro. Disputada metro a metro das suas rampas íngremes, ficou demonstrado que o equilíbrio e a competitividade nunca estiveram tão altos, correspondendo ao que pensam os espectadores mais atentos.
Como se esperava, o ritmo foi forte desde a Covilhã, altamente selectivo, e assim se manteve inclusive nas partes menos duras da subida ou mesmo na descida das Penhas da Saúde, onde, aliás, acabou por haver «vítimas» importantes. Além disso, foram nos dois quilómetros finais, onde normalmente as forças escasseiam, que a luta se tornou ainda mais acérrima, com o «prazer» acrescido de chegar em primeiro à Torre disputado praticamente ao sprint. Mas vamos à história.
O dia amanheceu ventoso, relegando para segundo plano o objectivo de realizar tempo-recorde ao de efectuar a melhor subida possível. A presença deste adversário invisível fez-se notar logo à saída da praça do município, na Covilhã, acentuando a dificuldade das primeiras rampas, sem invalidar que o ritmo fosse forte – o pulsómetro provava-o. O João Pedro, naturalmente, meteu o «passo» de quem começou a treinar há apenas três meses e, na frente, o Miguel fazia as despesas, lado a lado com o Freitas, que assim procurava desencorajar eventuais mudanças de velocidade dos seus três parceiros de grupo, gerindo o melhor possível as limitações de ser mais um rolador/sprinter que um trepador. No entanto, este seu objectivo só durou até à passagem pela Varanda dos Carqueijais, quando o Nuno, por breves instantes, e o Ricardo depois, tomaram a dianteira, acelerando ligeiramente mas o suficiente para fazer a primeira selecção — o quarteto passava a trio.
Depois de se certificar que o Freitas não tinha condições de acompanhar o ritmo – e a sua descolagem era definitiva —, o Miguel tomou a dianteira e forçou bastante o ritmo. A corrida estava definitivamente lançada. Dentes cerrados na passagem duríssima pelo Sanatório, mas ninguém deu sinais de ceder. Na parte mais suave da subida, batida a vento, o Miguel continuou à procura de provocar desgastes, não dando tréguas, forçando ainda mais quando a inclinação voltou a acentuar-se, nas Penhas da Saúde. A provar o aumento da velocidade, foi o facto de terem sido alcançados dois ciclistas que tinham «ido embora» logo à saída da Covilhã, e que se picaram quando o Ricardo fez duas ou três acelerações, entre as Penhas e o cruzamento de Manteigas. Nessa altura, o Miguel acusou o «toque» mas recuperou, mas estávamos longe de prever que, na descida, perdesse mesmo o contacto com o grupo, depois de o Nuno passar pela frente – refira-se, na única vez que o fez, verdadeiramente, durante toda a subida —, esticando o grupo, que entrou, alongado, na segunda metade da ascensão. No início da descida, o Ricardo, que fechava o quinteto, apercebeu-se que o Miguel estava a deixar um espaço aberto para os da frente: «Seguia atrás quando o Nuno se lançou a 70 km/h por ali abaixo, e quando me apercebi que o Miguel estava a deixar um espaço aberto alertei-o não facilitar, porque a entrada na subida provoca sempre um choque violento nas pernas e convém não perder a roda».
Mas em vão. A entrada na subida reduziu a velocidade, mas não a intensidade. Cerca de 400 metros depois, com o Miguel a lutar por fechar um espaço que, segundo o próprio, «chegou a ser inferior a dois carros», o Ricardo assumiu o comando, numa aceleração determinante. Os outros dois «outsiders» ainda resistiram até à dura passagem pelo túnel, mas foi o Nuno a aguentar a roda até cerca de 500 metros da Torre, cedendo algumas dezenas de metros após ataque final muito forte. No final, a diferença não excedeu os 25 segundos.
O Ricardo conta: «Senti-o a arfar atrás de mim, como nunca o faz, e forcei ainda mais porque sabia que se não o deixasse para trás naquela altura, nunca o conseguiria fazer mais próximo da meta. Apesar do vento, foi uma grande subida. O Miguel jogou os seus trunfos nas zonas mais duras e cedeu na descida, onde menos se esperava. O Nuno confirmou que é um trepador temível, mas limitou-se a seguir na minha roda, como o fizera no Col d’Aubisque, na Etape du Tour, sem assumir desgastes, como está ao alcance das suas reconhecidas capacidades». Por seu turno, Nuno disse ter-lhe faltado pulmão no último quilómetro.
O Miguel chegou dois minutos depois. «Perdi o comboio na descida e apesar do esforço foi impossível recuperar», lamentou, enquanto o Freitas atingiu a Torre com 12 minutos de atraso, mas satisfeito com a sua prestação. «Correu ainda melhor do que estava à espera. Não dava para seguir mais com o trio na Varanda dos Carqueijais, senão mais cedo ou mais tarde pagaria a factura. Assim, foi melhor seguir ao meu ritmo e chegar em boas condições físicas».
Finalmente, pouco menos de meia hora depois, o João Pedro celebrou o seu regresso à Serra, com bicicleta acabadinha de estrear. «Senti-me bem, mas precisava do carreto 26 para aliviar as pernas. Se o tivesse, faria certamente menos 5 minutos. Para o ano, estarei em muito melhor forma».
Classificação:
1º Ricardo Costa, 1h20
2º Nuno Garcia, a 25 s
3º Miguel Marcelino, a 2.00 m
4º Luís Freitas, a 12.00 m
5º João Pedro, a 29.00 m

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, as expectativas do Fantasma parece que sairam goradas. Depois de ter insistido em apostar no Nuno e no Miguel, foi o Ricardo a chegar à frente. Confiando na sua «sinceridade», apostou no «cavalo» errado. Mas para ele, seria a capacidade de lidar com a pressão que decidiria, porque para ele «falta saber quem é o mais forte psicológicamente», « «rei do pelotão», e não como eu penso, o que está mais forte ponto final! É isso que se deve entender das suas palavras: «sob pressão é que os verdadeiros campeões se afirmam», porque «é o Nuno que está fisicamente melhor logo seguido do Miguel…». E agora, o que dirá o Fantasma!? Aguardo ansiosamente o seu comentário, que ele prometeu!
Poulidor

Anónimo disse...

Caros AMIGOS!!!
É com enorme satisfação que tomo conhecimento destes resultados verdadeiramente espectaculatres!!!
Realmente, esperava mais do Nuno e do Miguel, bem como do Freitas!...
No entanto, quero aqui e agora "confessar ", que o esquecimento (INTENCIONAL COMO FORMA DE PRESSÃO) a que nos prognósticos submeti o Ricardo, parece ter surtido efeito!!!
A ele as minhas DESCULPAS!
Mais do que sua capacidade física, carecia de confirmação a sua capacidade psicológica, bem como e principalmente a capacidade para lidar com a pressão.
Rendo-lhe as minhas homenagens, pois mais uma vez, não só confirmou ser um excelente atleta, como também e principalmente, por ter tido a humildade de não reagir ao "ESQUECIMENTO" a que propositadamente foi submetido!
Parabéns a todos e podem estar certos de que continuarão a ser atentamente "OBSERVADOS" e sempre que se justificar...aqui deixarei o meu "TERRORISTA" comentário!!!...
Aquele ABRAÇO do FANTASMA!

PS: Peço desculpa por continuar na "sombra", mas definitivamente isto assim tem mais graça!...
Prometo, no entanto, ser isento e imparcial nos comentários que de futuro aqui deixar!