segunda-feira, março 27, 2006

Um furo e dois heróis

Uma fuga e um furo, pouco antes de Castanheira do Ribatejo, marcaram definitivamente o cariz da Clássica do Reguengo, no último domingo. O percurso era longo (120 km) mas, já se sabia, totalmente plano, à medida de roladores e encorajador de iniciativas como a que sucedeu à passagem pelo paralelo de Vila Franca, onde o Fantasma e o Salvador se distanciaram rapidamente de um pelotão numeroso, com algumas ausências importantes (casos do Miguel, L-Glutamina, Daniel, Vidigueira, entre outros, provavelmente vítimas da mudança de hora?!) mas repleto de caras novas. Entre estas, Paulo Matias, que fez uma aparição fugaz na recente Clássica de Évora, e que, desta vez, teve a particularidade de alterar o figurino da tirada – involuntariamente, diga-se.
Quando a fuga do dia durava há apenas dois quilómetros, cerca de Castanheira, e com o pelotão, numa primeira fase, a organizar-se para controlá-la, eis que Paulo Matias fura, forçando a uma paragem colectiva que, no mínimo, demorou 10 minutos. Foi esta a vantagem com que os dois fugitivos ficaram a aproximadamente 90 km do final. Recuperável para um pelotão forte e bem organizado? Talvez, mas difícil, mesmo tratando-se de uma dupla apenas. De resto, reforcei essa ideia pelo facto de o relevo não impor grandes dificuldades.
Uma vez retomada a marcha, sabia-se que iniciava uma caçada duradoura, que só terminaria quando concretizada (ou não!). O pelotão tentou desde logo organizar-se na perseguição, o que foi conseguido apesar de a coordenação ter estado longe de ser perfeita. Além disso, havia que contar com a menor capacidade de alguns elementos, principalmente quando o cansaço começasse a pesar nas pernas. Por exemplo, nos topos à saída de Azambuja houve necessidade de interromper o ritmo para «resgatar» o Abel.
De qualquer modo, rolou-se depressa atrás das duas figuras da jornada, primeiro a favor do vento até ao cruzamento de Cruz do Campo, e depois, contra o vento, com mais moderação, na estrada de lezíria que liga Valada a Azambuja.
Nesta altura, começou a duvidar-se sobre a presença dos fugitivos no mesmo percurso do pelotão. Que injustiça! Mas foi por mera falta de noção do tempo e da distância. A vrdade é que se andava muitíssimo bem lá na frente. De tal maneira, que, finalmente, só pouco antes de Vila Franca é que se avistaram – e a junção feita apenas no Sobralinho, após cerca de 90 km de escapada. Feitas as contas por alto, os dois protagonistas perderam, em média, cerca de 6,5 segundos por quilómetro, para um pelotão – sublinho –, numeroso e bem organizado. Não é bom, é muito bom, mesmo considerando a planura do percurso e as interrupções (duas ou três) no ritmo da perseguição – factores que terão, sem dúvida, contribuído para aumentar (mas não muito) aquele tempo. E se atentarmos à média realizada (à passagem por Alverca: 32 km/h), ainda com melhor noção ficamos do mérito da dupla de heróis. Mais: aquando da chegada, de rompante, do grosso da coluna, a dupla, embora naturalmente com bastante fatiga, estava longe de se arrastar – e o Fantasma ainda deu um ar da sua graça quando o comboio ia lançado antes de Alverca. Haverá dúvidas que o segredo da sua fantástica subida de forma é a aplicação na preparação semanal (descanso incluído) e a assiduidade à terapia dominical?

Notas de observador

1- Para a semana começam as Clássicas de Primavera, com a de Sintra 2, uma reedição da que foi disputada no final do ano passado e que tantas marcas deixou em alguns elementos do pelotão, nomeadamente em «duros» como o Hélder. As dificuldades vão aumentar e também a necessidade de moderar o andamento pelo menos nas fases intermédias, entre as subidas. Porque vão haver muitas. E também um final muito acidentado, entre Algueirão e Loures. Nesta altura, a capacidade de resistência a esforços intensos prolongados vai fazer a diferença. Vejo muita gente em crescendo de forma e interessada em lutar pelo «pódio», como disse o Z. A selectividade do terreno começará a impor-se à distância e os roladores darão lugar os todo-o-terreno, e estes terão de se haver com os trepadores nos momentos «altos». Será também boa ocasião para aferir as evoluções de forma de alguns elementos, e até dos que têm objectivos definidos na temporada. Além disso, chegou-me aos ouvidos que há algumas «contas a ajustar». Pela minha parte, deverei experimentar as pernas. A ver vamos.

2- Não dá para ignorar este episódio verdadeiramente rocambolesco, que nada tem a ver com ciclismo, mas com outra modalidade por mim muito apreciada: o atletismo – ou o que poderia ser uma tentativa de organizar uma competição do género. À passagem pela estrada de lezíria, entre Reguengo e Azambuja, marcações de distâncias na berma e diversos agentes de autoridade estrategicamente colocados em cruzamentos não deixavam dúvidas que ali se disputava – ou iria disputar – uma prova de atletismo de fundo. A confirmação veio pouco depois, quando avistámos os batedores, que abriam caminho ao líder destacado da prova – que logo se percebeu ir muitíssimo destacado. Mas muitíssimo mesmo. Provavelmente até demais. Tanto, que ponderámos que seria mesmo o único participante. Aliás, nos 7 km seguintes, até Azambuja, não cruzámos com mais algum, apesar de, entretanto, num posto de abastecimento, um membro da organização continuar à espera de fornecer aos restantes alguns líquidos. Arrisco dizer que em vão. Ou seja, o atleta, que até ia numa boa passada, era vencedor… à partida. Todavia, há uma explicação minimamente plausível: na mesma altura, cerca de 35 mil potenciais adversários atravessavam a Ponte 25 de Abril. Assim, as probabilidades de vitória do solitário desportista aumentaram exponencialmente. Há dias de sorte…

8 comentários:

Anónimo disse...

em dia de verdadeiro teste para o grupo perseguidor acentuou-se mais uma vez o espirito de entre-ajuda que ultimamente tem imperado entre nós, quero no entanto dizer em minha defesa que já nos kms finais da tirada se tornou extremamente complicado para mim e até mesmo porque não admiti-lo ás vezes doloroso contribuir para o bom desenrolar da perseguição, isto devido ao cansaço acumulado de tres dias seguidos a apanhar vento de frente, mas lá diz o ditado que quem dá o que tem a mais não é obrigado. aproxima-se agora uma tirada muitissimo complicada para todos em termos fisicos e especialmente desgastante para mim em termos psicologicos pois nunca consegui encará-la com facilidade e diga-se de passagem sempre me correu bastante mal.esta é uma de muitas etapas de subida que se avizinham por isso creio que o pessoal vai querer enfrentá-la com algum comedimento mas também com muita determinação, porque como diz o fugitivo FANTASMA só os duros penetram.
o próxima grande tirada é a de fátima já no dia 23 de abril, comecem desde já a mentalizar-se porque a dureza está pricipalmente nos últimos 20 kms( lá chegaremos).
treinem bem
JACKIE DURÃO

Anónimo disse...

Companheiros!
Confesso que estou um bocadinho "triste"!...
Não querem repensar as próximas voltas e continuar a "ROLAR"?
Subir para quê se podemos andar "a direito"?...
OK! Prometo que se tiverem paciência para esperar...lá estarei a tentar não vos "estragar" o treino!
Desculpem a "gracinha" de ontem (sem furo, certamente não teria sido possível) mas com um companheiro de fuga daquele calibre (PODEROSA PRESTAÇÃO DO SALVADOR) tinha mesmo que ser "até ao osso"! O lema durante a fuga foi: " ELES PODEM CÁ CHEGAR MAS VÃO VER-SE NEGROS PARA O CONSEGUIR".
Pena não ter dado até ao final mas com um pelotão daquela qualidade acabou por não ser mau de todo.
Fica para a próxima pois a partir de agora...o terreno ser-nos-à favorável!!!...
AB a todos e não se esqueçam de fazer no mínimo 3 "horinhas" de treino diárias...

PS: SERÁ QUE É MESMO NECESSÁRIO IR A SINTRA?...É QUE A VOLTA DA ÚLTIMA VEZ PARECEU-ME FÁCIL DEMAIS!!!...AI TANTA DOOOOOOOR!!!

Ricardo Costa disse...

Companheiro Fantasma. Não podia deixar de aproveitar a tua «presença» para voltar a felicitar-te (depois de o ter feito na crónica da volta) e de fazer questão de repeti-la desta vez pessoalmente, pela magnífica prestação de domingo. Que além de outras, teve a particularidade de abrir um agradável precedente - que é o das fugas longas e duradouras e os efeitos que provocam lá atrás no pelotão. Todos sabiamos que o objectivo era caçar-vos mas ninguém assumiu isso frontalmente. E a primeira manifestação nesse sentido foi através daquela expressão de dúvida sobre se vocês estariam a fazer o mesmo percurso, que, aliás, também referi na crónica.
Mas os elogios não ficam por aqui. E de facto ainda bem que ressalvas o desempenho do Salvador - de resto já era previsível que tivesse tido um contributo efectivo, pois só assim seria possível manter a fuga a dois durante tanto tempo. A ele também o meu aplauso. Ainda mais, porque se trata de uma pessoa com grande abnegação e combatividade. Daqueles que encarnam o espírito do «só se não puder...»
Já agora em jeito de homenagem, deixo-os aqui os registos de médias da perseguição à vossa fuga para emoldurarem:
Vila Franca-Carregado: 36.2 km/h
Carregado-Azambuja: 38.2 km/h
Azambuja-Cruz do Campo: 34.3 km/h
Cruz do Campo-Reguengo: 34.3 km/h
Reguengo-Azambuja: 31 km/h
Azambuja-Carregado: 33 km/h
Carregado-Vila Franca: 33 km/h
Vila Franca-Alverca: 35 km/h

Abraço

P.S. Quanto à volta de Sintra, para mal não só dos teus pecados, é para manter...

Anónimo disse...

Olá a todos,
Bem me pareceu que depois de V.F.Xira o FANTASMA/Salvador já não íam deixar aquela atitude de parecer querer "partir os pedais"!!!
Ainda para + qd houve o furo eles nem se aperceberam!
Eu não parei visto q ía seguir noutra direcção e qd virei para a Arruda com o meu Pai e o Samuel ainda nos rimos bastante pq percebemos q os fugitivos já não íam abrandar, o q, como sabemos, significava 1 obrigatório e cerrado contra-relógio do Pelotão...
Nós fomos p/ a Arruda, Mata, depois em Santiago dos Velhos fizémos 1 estrada q eu desconhecia mas que parece ser o local de treinos de fim de tarde do "Relojoeiro"...1 das rampas tem 11%...!!!
Descemos p/ Bucelas e depois p/ Loures, o meu Pai ficou em casa, eu fui subir até Montemor e o Samuel atacou o Cabeço de Montachique pelas "7 Casas"...e parece q ainda + algumas subidas!
Depois disto, equipei-me para correr e fui até ao parque da cidade em Loures e fiz 30' de corrida + 20' a andar...!
1 coisa posso garantir, n há sensação como a de correr a seguir a andar de bike...ahahah!
Parabéns aos fugitivos q animaram o dia e aos restantes pelas médias parciais q fizeram.

1 conselho: após a incursão a 2/3 subidas q fiz em detrimento de + 1 volta plana, posso dizer q para quem treina pouco como eu, entenda-se, ao Domingo, vai iniciar esta nova fase c mta dificuldade pq estes meses a andar a direito vão penalizar 1 pouco a capacidade de subir...acreditem!!!

1ab e q venha "Sintra2"
ZT

Ricardo Costa disse...

ZT, concordo perfeitamente com a tua opiniao sobre a questao da dificuldade em abordar às subidas pela primeira vez depois de tanto tempo a rolar. Eu também tive essas sensacoes durante este mês, mas é perfeitamente natural como etapa de um plano de preparacao para objectivos a longo prazo. Por isso é plausível que se enfrentem subidas tao empenhativas como a Mata, a Sra. da Ajuda (a tal dos 11%), Montemor ou as Sete Casas. E sendo que a única justificacao para esse castigo é atingir a plena forma, creio que seria lógico, e divertido, colocá-la à prova logo que os niveis físicos sejam satisfatórios. Encara isto apenas com uma forma de instigacao das tuas capacidades e dos que estavam contigo no domingo!

Anónimo disse...

Boa tarde ao Painel,
Tá tudo muito calmo!!!
Como é que é?
As "armas" estão apontadas à Serra de Sintra?????

1ab e boas pedaladas,
ZT

Anónimo disse...

Como é que vão os treinos???
Eu tenho corrido/nadado(pouco).

ZT

Ricardo Costa disse...

ZT, esta semana tem sido muito intermitente. Na terça e na quarta saí do país em trabalho, mas ainda tive a oportunidade de fazer bicicleta estática no ginásio do hotel. Uma hora de intervalado intenso, com 4 picos de 2 minutos a 320 watts... e sem Polar! No final, a sensação de que subi alguma coisa muito íngreme!
Ontem (sexta), finalmente a estrada. Duas clássicas... numa. Primeiro Sobral da Abelheira até Mafra. Atenção à subida de Sobral da Abelheira. Muita dura (1,5 km a 9%) e depois mais 600 metros a 5% até Barreiralva. E até são quase 60 km de «parte-pernas». Uma Clássica a ter em conta.
Depois, em Paz, fui em direcção a Ericeira para fazer a segunda metade da Clássica da Carvoeira, principalmente a subida da Sra. do Ó. Dura no início e depois mais suave. Mas são quase 7 km até Mafra. Finalmente o regresso por Malveira e Bucelas. 125 km e muitas dores nas pernas, porque ataquei todas as subidas, inclusive o Cabeço da Rosa a fechar, quando as forças já eram escassas. No final, uma média 28,5 km/h e uma pulsação média de 148. Neste momento, receio não conseguir recuperar totalmente para domingo. Amanhã, vou fazer alguns km a rolar para tentar eliminar alguns dos «litros» de ácido lático que tenho nos músculos. Vamos a ver...
Além disto, tenho informações que a malta anda empenhada e Montemor foi, a meio da semana, palco de alguns treinos de séries. E houve até quem descesse para Caneças para «apalpar» o terreno onde a Clássica de domingo se poderá decidir. Sim senhor!