A volta de Manique do Intendente não foi a que teve a média horária mais elevada, mas terá sido, certamente, uma das que proporcionou sessões contínuas de maior... excitação. O epicentro foi a passagem pelo troço de Manique e Massuça – como seria previsível devido ao relevo mais acidentado -, mas as ondas de choque prolongaram-se a Pontével, chegando a Azambuja e até a Vila Franca. Os estragos foram, naturalmente, avultados e a partir do primeiro abalo só restaram os mais fortes e disponíveis para enfrentar cavalgadas tão intensas em fase inicial da temporada. Estes formaram um grupo restrito, ainda assim em número suficiente para demonstrar que, nesta altura e tipo de terreno acessível, não é fácil alguém destacar-se. De facto, não houve, mas apenas um progressivo delapidar desse grupo na fase final da tirada.
Tudo sucedeu a partir, sensivelmente, de meio de um percurso com cerca de 130 km, até aí percorrido em andamento moderado – nesta fase a média não excedeu os 30 km/h – e em pelotão compacto, mais uma vez muito bem composto. A harmonia do colectivo resistiu à passagem pelo carrossel da Espinheira, ultrapassado sem excessos, mas logo que se saiu de Alcoentre para a ligação que caracteriza a volta (Manique-Maçussa) deu-se uma mudança brusca do figurino. Os homens-fortes do dia empertigaram-se à frente do pelotão e foi difícil conter-lhes o ímpeto ainda antes de Manique. Ficou evidente que a maioria se estava a preparar os «pontos quentes» do troço que, decerto, nem todos os conheciam. Bastou que os conhecedores «picassem» o andamento para os demais se colocarem de sobreaviso. Quem, como eu, por lá tinha passado não mais de duas ou três vezes, aguardava que o «frisson» culminasse na dita subida do cemitério, a primeira de duas ascensões curtas mas inclinadas daquele sector. A aproximação à subida, em descida rapidíssima, apressou a colocação das principais pedras nas posições cimeiras, sob o risco de se perder a dianteira. A abordagem foi poderosa, a exigir músculo. Quem fraquejasse um instante, ficava! E tudo se passou num ápice, destacando um pequeno grupo que, segundo creio, foi com raras excepções (ou mesmo uma única excepção) aquele que ultrapassou à segunda subida, a mais exigente, na Maçussa. Entre as excepções, deu-me a perceber naquele afogadilho, que a única confirmada foi a do Capitão, que passou estoicamente o «cemitério», fez a veloz descida no grupo da frente mas veio a claudicar no «muro» da Maçussa. Foi o único a sair do grupo formado pelos seguintes ciclistas: eu, Capela, Jorge, Rui Torpes, Renato, Duarte, Ruben e Carlos Cunha. Que, como disse, se manteve coeso apesar da intensidade não ter baixado na segunda subida, que o diga o «sacrificado» (Capitão).
Na parte mais acentuada (a 10-12% de inclinação), o ímpeto que tinha marcado a primeira subida e a fase inicial desta teve forçosamente de ser contido, permitindo melhor gestão e controlo. Mas logo que a pendente suavizou (sem que a subida terminasse), os ataques sucederam-se. E ao mais forte, do Torpes, acabei por vacilar, perdendo alguns metros com o Jorge – que viemos a recuperar com prontidão graças ao seu esforço exclusivo.
A partir daí, a correria desatou-se, à ordem do Duarte agora em colaboração colectiva, cruzando-se a toda a velocidade Pontével, Cruz do Campo até se deter só na Azambuja. Ficam aqui algumas médias, mais agudas para quem as sentiu na «pele»: Alcoente-alto da Maçussa (34 km/h); Maçussa-Cruz do Campo (43 km/h); Cruz do Campo-Azambuja (40 km/h). Aguardou-se então pelo pelotão... que chegou fragmentado.
Realizado o agrupamento, o ritmo não baixou – embora com a incomparável facilidade de o terreno ser plano. Meti primeiro o comboio a 35 km/h, mas antes de Vila Nova da Rainha, o incansável Capela elevou a fasquia para os 38-40 km/h. A outro nível em terreno plano, não há dúvida. Na aproximação ao Carregado, no topo do Campera, houve a «trolha» do costume. Com o pelotão já lançado, causou-lhe mossas definitivas. Azambuja-Carregado (36 km/h).
E depois veio o vertiginoso troço Carregado-Vila Franca, a... 44 km/h! Com a agravante de serem praticamente os mesmos protagonistas na frente. Mais trabalho para o Capela (impressionante!), mas também o Renato surgiu nalgumas acelerações desestabilizadoras, e também o Rui Torpes por lá passou. Poucos mais tiveram capacidade para os substituir à altura!
No sprint de Vila Franca sucedeu um episódio que foi prova já da excelente forma destes últimos. Na descida para a rotunda da A1, o «comboio» ultrapassou a todo o vapor um pequeno grupo que seguia mais ou menos tranquilamente (já o tínhamos avistado na neutralização da Azambuja). Ao precipitarmo-nos para a longa recta final para Vila Franca, de repente, passaram dois ou três elementos desse grupo como se não houvesse amanhã... Resultado: tocou-se a rebate no nosso pelotão, com os mais rápidos na perseguição como gatos a bofe: o Capela, o Renato, Duarte, o Cunha e, principalmente, o Torpes, aglutinaram-os literalmente.
Moral da história: que ideia foi aquela dos forasteiros!? No mínimo, não é cordial, para não dizer desrespeitoso, meter a foice em seara alheia. Mas, como disse, foi impressionante a capacidade de reacção dos nossos.
Após Vila Franca, o pelotão ficou ainda mais reduzido. E até Alverca, a 40 km/h, restaram ainda menos. O Capela e o Carlos Cunha ficaram «em casa» e só eu, o Torpes e o Capitão (grande!) abordámos, em solitário, a rampa da Sagres. Num derradeiro esgar de forças, apenas eu e o Torpes resistíamos em Vialonga.
Deixei-o a meio caminho do MARL, e no regresso a Alverca cruzei-me com alguns dos restantes elementos do vasto pelotão, espalhados por minigrupos. Um deles, o Jony, levou-me quase à porta de casa, ultrapassando a sua décima hora de treino este fim-de-semana! Brindámos com uma retemperadora Coca-Cola.
Para a semana, volta com as mesmas características, destacando-se a passagem por Azambuja, Pontével, Aveiras e Ota, e no final, o regresso a Loures por Sacavém e Apelação. Distância acima de 125 km, como nas últimas duas semanas.
1 comentário:
se os forasteiros fossem ate loures,voces ja nao conseguiriam ir na roda...
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