A volta da Valada, por tradição a primeira do calendário anual, devido às condições climatéricas, foi transferida para a terceira do alinhamento da temporada, mas os mesmos motivos meteorológicos que a adiaram acabaram por fazê-la regressar à sua condição original: de abertura da época. Isto, é claro, se exceptuarmos a tentativa «abortada» da volta (da Ota) do último fim-de-semana sob terrível intempérie!
No entanto, mesmo com o tempo seco, a tirada não deixou de ficar marcada pelos efeitos, ainda, das inclementes chuvadas do início de ano. O mais relevante foi a surpreendente travessia de um pequeno troço alagado da recta de Valada, submerso em cerca de 15 centímetros de água, que embora não impedindo a passagem das bicicletas, criou uma situação de todo invulgar. Episódio extra num percurso já caracterizado pela travessia igualmente «sui generis» de uma enorme ponte férrea (sem piso em asfalto) em Porto de Muge.
Ainda sobre as particularidades do traçado, pode considerar-se que este se trata de uma espécie de mini-Clássica de Santarém – uma vez que é réplica encurtada (128 km) do percurso (155 km) que será cumprido no próximo dia 28 de Fevereiro, então na referida primeira Clássica do ano. Neste sentido, terá sido uma oportunidade para os que irão participar nesse evento, reconhecerem (ou recordarem) algumas passagens do trajecto.
De resto, sobre as incidência da volta, o pelotão foi, uma vez mais, numeroso e revelou grande homogeneidade, potenciada pelo relevo acessível e o ritmo moderado a que se disputou a maioria parte da tirada.
Logo na fase inicial, decidi expor-me um pouco ao esforço, e entre o Tojal e o Cabo de Vialonga, partilhando a condução com o Jony (que encurtou a «sua» volta), levámos o pelotão à boa média de 30 km/h. Voltei a repetir a presença à frente, mais tarde, a partir dos últimos 4 km da recta do Cabo, agora em parceria com o Rui Torpes, mantendo a velocidade média nos 30-32 km/h – com a dificuldade acrescida de dar o peito ao vento, cuja diferença para uma posição resguardada no pelotão situava-se em cerca de 30 pulsações. O trabalho manteve-se após o Porto Alto, então aproveitando a mudança da direcção do vento para colar o velocímetro nos 33-34 km/h, até às proximidades de Salvaterra, e sempre na companhia do Torpes.
A partir daí, o Capela, que se mantivera estranhamente «escondido» no seio do pelotão, tomou o comando (ao lado com Hugo Maçã), ao seu estilo elevando, de imediato, o andamento para 36-37 km/h. Assim prosseguiu (o Capela) até 5 km do cruzamento de Muge, quando rendi o Maçã (e não sei porque motivo) decidiu aumentar o ritmo para mais exigentes 40 km/h em terreno ondulado. Foram cerca de 7 minutos no limiar cardíaco das 170 ppm.
Seguiu-se uma fase de relaxe, com as travessias da ponte de ferro, do troço submerso da Valada e ainda mais tranquila paragem para café em Vale da Pedra.
Nesse entretanto houve um episódio curioso: após a ponte, parou-se para aliviar a carga e eu, que já vinha apertado», fui um dos mais demorei na função, tal como o ZT. Quando regressámos à estrada, já se perdera de vista o pelotão. Então, meti-me na roda da sua «cabra» e aproveitando o bom andamento alcançámos rapidamente o isolado Samuel, que logo que nos viu disse já recear não haver mais gente para trás que o levasse ao grupo. Entretanto, ainda sem vislumbre deste, experimentei colaborar na recuperação. Todavia, ao fim de poucas centenas de metros senti que o meu andamento não era, digamos, o mais apropriado à rápida recuperação (talvez fosse da paragem). E por isso vi, sem surpresa, o ZT retomar decididamente a dianteira, conduzindo-nos com eficácia ao pelotão, que, aliás, rolava tranquilamente.
E agora, o curioso: uma vez reintegrados, assomei-me a seu lado (do ZT) para o cordial agradecimento (que fica sempre bem nestas situações), mas ele antecipou-se, adivinhando a atitude: «Poupa-me disso, Ricardo, ‘ela’ está cá para estas situações!» «Ela», entenda-se, é a sua bendita «cabra» de contra-relógio, que «nestas situações», de facto, marca a sua diferença... Logo hajam pernas!
No reatamento, após o tal cafezinho em Vale da Pedra, numa pastelaria em que a poupança na conta da luz tem aliviado certamente a crise das vendas, o ritmo foi crescendo de intensidade, com o Capela a monopolizar a dianteira, a par com diversos elementos. Até ao Carregado (20 km) a média foi de 35 km/h e daí a Vila Franca (8 km) subiu para 37 km/h – com direito ao tradicional sprint à entrada da cidade. Este, mais uma vez face à ausência de sprinters puros (ou a sua não participação), decorreu em género de super-sprint, ou seja, como não foi lançado proporcionou ataques e contra-ataques na longa recta, que permitiram – imagine-se – intrometer-me entre os mais rápidos. Que foram o André e o Hugo Maçã.
De Vila Franca a Alverca nada teve de recuperação ou alívio. Pelo contrário, houve alguns interessados em não deixar cair o ritmo, como que a prepararem mais achaques. Estes vieram a repetir-se à chegada a Alverca, mas tiveram o seu ponto alto no topo da recta da Sagres, para o Cabo de Vialonga, onde foram largados definitivamente os «cavalos» - já sem o Capela, que ficara em Alverca.
À forte aceleração final do André (no topo a 40 km/h) responderam com eficácia apenas o Hugo Maçã, o Rui Torpes, eu e o «parceiro» do André (antigo campeão de sub-23, segundo informações que circularam no pelotão), que se revelou, a partir deste momento, características de bom rolador. Aproveitando o momento de recuperação após a aceleração, isolou-se cerca de 100 metros e obrigou a uma perseguição muito esforçada. Primeiro, o André retirou o «corpinho» em previsível comunhão com o seu colega (de ocasião) e foi o Rui Torpes assumir a perseguição. Fê-la durante mais de 1 km sem ajuda mas... sem reduzir a desvantagem para o fugitivo. E começou a perder gás ou a aliviar... Por isso, decidi dar o meu contributo final. Passei à frente e a distância de facto diminuiu, relançado o grupo. Mas também comecei a perder força sem concluir a perseguição. Então, surgiu o Duarte (que conduzia o pelotão principal que se atrasara ligeiramente no topo do Cabo – mas que respondeu massivamente bem) a render-me com todo o fulgor. Fê-lo a mais de 55 km/h (de resto, tive de deixar passar todo o grupo para me reintegrar... com dificuldade), acabando ele, junto ao MARL, por culminar a complicada «caçada».
Foi um final de tirada que destoou da restante, mas sem desvirtuar a toada moderada e acessível a que aquela decorreu, com média final de 33 km/h, de acordo com os propósitos da fase inicial da temporada.
Na próxima semana, a interessante volta de Manique do Intendente
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