segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Ericeira: a crónica

A volta da Ericeira/Terrugem marcou o regresso do pelotão a cotas superiores a 100 metros de altitude e a acumulados a rondarem os 1000 metros, mas o nível das últimas semanas manteve-se. As subidas, na sua maioria curtas e pouco acentuadas, limitaram-se a fazer a selecção... mínima, apenas abalando o equilíbrio de forças vigente nos longos percursos planos. Ou então, pode igualmente concluir-se que as dificuldades não foram suficientes para quebrar a ordem: nem o relevo foi atroz, nem a distância (inferior a 90 km) tão massacrante.
Desde logo, ajudou a atenuar o desgaste o facto de a primeira dificuldade, em subida, entre Bucelas e Venda do Pinheiro, ter sido cumprida a ritmo tranquilo, constituindo, na opinião do Rui Torpes à chegada ao alto, uma «série perdida»... O motivo do impasse foi um furo do Hugo Silveira (o recordista na dispendiosa modalidade de arremesso de boyaux ao lixo) logo nas primeiras elevações, à saída de Bucelas. O pelotão, composto, na altura, por cerca de 15 unidades, contemporizou, subindo calmamente em amena cavaqueira e conduzido em parceria pelo Freitas e o Evaristo. A reunião dos grupos só sucedeu praticamente na chegada à Venda e coincidiu com a entrada do Runa, Rocha, Manso e Paulo Pais – estes dois últimos de regresso (aplaudido!) após longa ausência.
Logo que deixou de haver retardatários, acabaram-se as razões para continuar em andamento moderado. Tanto mais, porque alguns corações já desesperavam por maiores palpitações! Não se esperou muito mais pela correria. A descida da Malveira a Alcainça abriu as hostilidades e a subida para a Abrunheira, «atacada» desde os primeiros metros pelo André, despoletando a reacção do Torpes, causou as primeiras rupturas no (agora) grande pelotão. O Freitas lançou-se na descida e na rampa final, entre rotundas, «negociada» em forte aceleração, isolou-se um grupo de não mais de 5/6 elementos, e até estes chegaram fraccionados ao alto.
O ZT, que aí se juntou à alcateia, não deve ter ficado surpreendido com a ferocidade com que foi ultrapassado. E definiu os sinais evidentes da intensidade estampados no meu rosto, que ousei (tentar) seguir aos andamentos mais rápidos: «parecias um peixinho que tenho lá no aquário»... Em 3,5 km, a 28,5 km/h, média de pulsações: 168.
No alto, «carimbou» o André, seguido de perto por mais um jovem companheiro que fez a estreia entre nós, tal como o poderoso Fábio Silvestre, capaz de altas andanças. O Torpes foi o único a morder-lhes os calcanhares e os demais que se aproximaram (poucos como já referi) tiveram de ceder algumas dezenas de metros.
A neutralização foi, contudo, muitíssimo mais breve que o habitual, e o pelotão não perdeu tempo para se lançar a toda a velocidade, agora a caminho de Mafra e Ericeira. Nesta ligação, evidenciou-se um quarteto: o Manso deu o mote e passou para a liderança logo na Paz, levando alguns minutos (consideráveis...) o pelotão estirado a cerca de 50 km/h (média de 46,2 km/h), após ser rendido amiúde pelo Jony, Hugo Silveira e o Evaristo. Excelente trabalho deste grupo, com mérito acrescido para o Manso devido à mais empenhada e duradoura participação. O labor deste fantástico rolador (considero-o desde o início um dos hábeis e disponíveis entre nós na acção neste tipo de terreno) não terminou com a entrada na Ericeira – manteve-se até ao início da descida para a Foz do Lisandro, quando o Freitas tomou a dianteira e entrou na subida à frente, logo atacando...
Acelerou à frente do pelotão e ganhou-lhe cerca de 50 metros face a aparente tranquilidade deste. Mas os leões já vinham de garras afiadas, apenas preferiram aguardar por melhor altura para investirem. De qualquer modo, mesmo ao ser alcançado ainda antes do cruzamento da Carvoeira/Sra. do Ó, o Freitas passou directamente de fugitivo para condutor do pelotão, impondo bom ritmo. Porém, sabia-se que as feras não iriam demorar muito a assumir-se.
Sem surpresas, o André. Mudou o andamento, abalando a ordem. Seguiu-se o seu comparsa. Forte, forte... O André correspondeu e a intensidade atingiu o grau de «selecção». O Duarte, então à cabeça do grupo, deixou abrir uns metros. A corda partiu-se. Então saltei no encalço do duo, mas o andamento era muito alto... e não baixava. Quando o André aliviava, o outro rendia-o. Aguardei por uma nesga, um momento de relaxe dos dois para encostar. Nunca houve. E eu nunca cheguei às rodas. Nem quando o Torpes, atrás de mim, me empurrou, quase ordenando em tom desesperado: «Fecha lá o espaço!». Respondi-lhe com a verdade: «Não dá»! Andamento de outro nível, admitamos. E ele teve de se fazer à vida. Saltou, juntou-se à dupla, mas sofreu, sofreu... e teve largar ligeiramente antes do topo. Eu perdia cerca de 60/70 metros. Para a frente e agora também para trás, perante a contra-ofensiva de um pequeno grupo liderado pelo Duarte. Ainda atingi o alto em posição intermédia mas fui absorvido rapidamente.
À frente, o trio também aliviou. E aguardou-se pelo pelotão, na sua versão mais tresmalhada do dia. Ressalve-se que, no grupo perseguidor, estavam (perdoem-me os nomes que eventualmente omitir, por mera impossibilidade de observação e memória), além do Duarte, o Paulo Pais, Cunha, Jorge, Maçã, Arraiolos, Runa, Zé-Tó... Além do Freitas (pelo seu bom desempenho inicial), foram os mais fortes no Pobral, a subida realmente mais selectiva do percurso – pela sua morfologia e modo como foi «atacada»!
Subi em tempo de recorde pessoal: 6m43s (25 km/h, a 177 bpm de média), retirando 16 segundos à minha melhor marca anterior, em Fevereiro de 2009, na mesma volta. Então, o André e o Ruben em destaque a partilharem a liderança com um ataque madrugador; eu a «estrear» a posição intermédia durante grande parte da subida, tal como ontem; e o Aldeano a protagonizar uma excelente recuperação à frente do restante grupo.
Novamente reagrupado, o pelotão rumou a Terrugem, novamente sob o comando do Freitas. Deu-se a esforço redobrado, porque foi de face ao vento – e sabe-se como ele castiga naquela zona. Foi ainda com o homem das maratonas de sábado naquela posição que o Paulo Pais se destacou e também que foi reabsorvido, muito ainda antes de Terrugem. Terá sido, para ambos, uma acção bastante fustigadora. Sublinho-o, mesmo sem ter ousado experimentar a sensação.
Na aproximação a Terrugem, a volta passa a ser contar factor... inesperado. A equipa de jovens do Milharado cruzou-se em sentido contrário e não foi em modas: fez meia volta, juntando-se a nós. A fusão, só por si, fomentou a desestabilização: os «outsiders» não se coibiram em assumir rapidamente as posições cimeiras do pelotão. Não sei se pelo efeito daí recorrente, mas o andamento disparou nas rectas da Granja, com o André e o Rui Torpes a isolarem-se alguns metros. Todavia, o pelotão estava maior e mais forte que nunca e moveu-lhes perseguição eficaz e de curta duração.
Em Pêro Pinheiro, a rampa estreia no interior da localidade atirou o Runa ao chão. Causa: abalroamento de um tranquilo ciclista que parecia parado à passagem do endiabrado pelotão. Sem consequências. E até à aproximação de Negrais, reinou uma espécie de paz... podre. Então, assumi-me à frente, puxando pelo grupo no primeiro topo (do campo de futebol) e depois através do falso plano ascendente até Sta. Eulália, onde se discutiu (eles discutiram!!!), como é tradicional, o sprint para o topo. Para mim, foram 2,8 km em 6 minutos intensos, a 29 km/h e 175 bpm.
A chegada a este local marcou simbólico fim de volta. A ligação a Loures foi faseada e quase sempre tranquila, tendo a malta das bandas de Alverca e Sta. Iria (são cada mais e mais «ruins»!) mantido ritmo moderado, não propriamente de relaxe apesar da fadiga que a maioria já reconhecia.
Ainda assim, eu e o Jorge ainda partilhámos um excelente prolongamento de treino, com subida ao alto de A-dos-Melros e descida para Alhandra, terminando a quinta hora, com satisfatória média total de 29 km/h.

Para a semana, a tipologia do percurso repete-se para S. Pedro da Cadeira. Num traçado que considero bastante interessante e não menos exigente que o do domingo transacto. Ainda que não demasiado, tem mais subidas e mais selectivas! E a primeira clássica da temporada aproxima-se rapidamente: é já no dia 28, para Santarém! E começam a chover novidades para Évora!

2 comentários:

Anónimo disse...

Queria informar todo o pessoal que está a decorrer a petição "Alteração do Código da Estrada reforçando direitos de ciclistas e peões" a participação de todos é importante vejam o Link:
http://www.peticao.com.pt/codigo-da-estrada-ciclistas-peoes

Filipe Nunes

J. Manso disse...

Ricardo, queria aproveitar para agradecer a recepção ao pessoal aqui do Oeste.
Boa manhã de ciclismo!

Abraço