terça-feira, fevereiro 02, 2010

Pontével: a crónica

Grande pelotão que se reuniu em andamento moderado à passagem pela variante de Vialonga! Quase quatro dezenas de ciclistas, motivando o espanto de quem esteve presente nalgumas das maiores concentrações do nosso grupo e há algum tempo andava afastado das lides domingueiras de Loures, como o caso do camarada Rocha. «Isto está mesmo a sério! A continuar assim, vai ser preciso contratar batedores...», desabafava ao contemplar a dimensão da coluna que voltou a contar com a presença de muitos elementos estreantes e outros menos habituais.
Atenção: não confundir com «forasteiros», cujo significado do termo é «que ou aquele que é de fora; exterior ou alheio»; e deve ser interpretado à letra e em contexto próprio.
Mas a admiração de quem também já assistiu a algumas das mais desenfreadas correrias do grupo, não demorou a subir de tom, quando o pelotão desatou a ritmo alucinante ainda se passava por Alverca, em resposta a um ataque inesperado do Freitas. As acelerações provocaram diversos cortes no pelotão, que devido à necessidade de fechar os espaços abertos e perante o elevado ritmo imposto no grupo da frente quase toda a gente passou por dificuldades. Não tenho memória de alguma vez se ter rolado tão depressa entre Alverca e Vila Franca – e a média demonstra-o: 43 km/h.
A passagem do empedrado não trouxe tranquilidade e na sequência da altas intensidades não surpreendeu que o pelotão se tivesse fraccionado. E os que conseguiram (re)integrá-lo com dificuldades à saída do pavé, tê-lo-ão perdido definitivamente até ao Carregado, ao rolar-se a 37 km/h.
Na liderança, o habitual Capela contou com um «concorrente», sem dúvida, capaz de o superar: o jovem sub-23 Fábio Silvestre, que há duas semanas se estreou entre nós, deixando desde logo vincada a sua chancela de extraordinário rolador/sprinter. Desta vez, estarreceu quem seguia no grupo que se seleccionou a caminho da Azambuja, passando largos períodos a «tirar» a velocidades a rodar os 50 km/h. Resultado: média de 42 km/h desde o Carregado.
Poucos ou nenhuns ousaram substitui-lo! E quanto o fizeram foi por breves instantes e com prejuízo do andamento. No grupo quase sempre estirado em fila indiana e reduzido a cerca de metade da sua dimensão original, cerravam-se fileiras para não se perder as rodas. E desejava-se que aquele andamento não perdurasse quando surgissem as primeiras irregularidades do relevo, entre Azambuja e Cruz do Campo.
Pura ilusão. O pequenos topos foram ultrapassados a alta intensidade e os mais justos tiveram de ceder. Neste sector: 39 km/h.
A toada acalmou, finalmente, a caminho de Pontével e Aveiras, agora que o terreno se tornava mais acidentado, permitindo que outros passassem pela frente, embora com desgaste controlado. Aproveitou-se para se alimentar e até para... dialogar.
Em Casais Penedos, o Duarte atacou e destacou-se perante a permissividade do pelotão. Esta, apesar de breve, foi interrompida pela arriscada entrada em Aveiras, que poderia ter causado dissabores. Relaxou-se bastante e o fugitivo ganhou importante vantagem até à Ota – onde aguardou pelo grupo. A média do pelotão nestes sectores rondou mais acessíveis 30 km/h.
Mas logo que se tomou a estrada nacional a caminho de Alenquer, o ritmo voltou a aumentar, agora sem o contributo do Fábio, protegido desde Pontével no seio do pelotão, e com o Capela e um ou dois seus conhecidos (de Alverca!?) a assumirem o controlo das operações. O Renato também passou pela frente.
Desde a Ota ao Carregado, a média parcial subiu para 39 km/h e daí a Vila Franca para 41,5 km/h, voltando amiúde as sensações desconfortáveis das altas intensidades, como sucedeu na primeira fase do percurso. Apesar disso, em Vila Franca o pelotão lançou-se em sprint vigoroso, com o Jony a fazer valer os seus créditos face ao jovem Fábio. Saiu-se do empedrado em pelotão compacto e na longa ligação a Sacavém a média estabilizou nos 36 km/h.
Na aproximação à subida para Apelação, na zona da S. João da Talha, o Freitas isolou-se. Surpreendeu muito bem o pelotão. Ainda teve uma breve parceria (terá sido mesmo!) do António, mas ficou rapidamente entregue a si próprio. Por alguns minutos, manteve muito bem a vantagem, mas a perseguição moveu-se. E não partiu do incontrolável Capela ou de outros, como este, quase sempre activos. Daquele, veio apenas a ordem de comando. E do Gil e do Carlos Gomes partiu a execução. Nesse momento, na iminência da subida, com a distância do fugitivo controlada a 200/300 metros, a sua aventura estava condenada.
Mal a estrada se inclinou, o André fez o óbvio: acelerou, deixando o pelotão para trás. Neste, levantaram-se vozes para ignorar o engodo. Ele rapidamente se juntou ao Freitas, mas passou... directo. Então, atrás, tomei a perseguição, surgindo pela primeira vez na frente em toda a jornada para cumprir o meu objectivo do dia: chegar à subida ainda com capacidade para impor o ritmo. Ouvi o Renato na minha roda dizer-me que me ajudaria. Não foi necessário. A perseguição foi breve, e mais uma vez sem surpresa: o André apercebeu-se da aproximação e aliviou os pedais, aguardando... por melhor ocasião. E esta chegaria, mais lá para o alto.
E agora, mesmo contra a vontade do já reduzido pelotão (talvez pretendendo que o André assumisse o andamento, imagine-se), continuei a meter o «meu» passo à frente. Fi-lo durante quase toda a subida, até aos metros finais da fase mais inclinada (saída da Apelação), quando, como se previa, o André voltou a atacar. Voltaram a disparar as indicações para não valorizar, mas a subida estava prestes a terminar e agora a intenção do «puto» era mesmo para ir até ao fim... Por isso, a perseguição teve de arrancar, deixando de fora os que vinham justos ao meu ritmo certo. Saltaram o Capela e um dos seus conterrâneos, o Duarte, o Carlos Gomes, o Carlos Cunha, o Fábio Silvestre. Eu perdi alguns metros até ao topo da serra de Frielas, com outro ciclista (dos conterrâneos do Capela), e os dois «fizemo-nos» à descida no encalço do grupo que depois de alcançar o André se lançou a toda a velocidade, dirigido pelo Capela.
Foi, nessa altura, na passagem pelo interior de Frielas, que se dá o acidente. Manobra mal sinalizada de uma automobilista atirou o Capela ao chão. Para quem, como eu, seguia ligeiramente atrás, a visão inicial, da bicicleta no solo sem... dono, fez temer o pior. À velocidade que se descia... ai! Mas o ciclista estava em pé! Felizmente! Naturalmente, combalido e com escoriações várias mas sem lesões ou ferimentos graves.
Mau final de «festa» que é alerta, uma vez mais, para o perigo que constitui atravessar localidades e outros locais de risco iminente a alta velocidade. Desafia-se a sorte, e estes acidentes relembram-nos que não devemos abusar dela. Mesmo no calor da luta, com a adrenalina aos saltos, deve-se preservar o discernimento de não arriscar... Que as consequências podem ser bem mais gravosas que estas.
Creio não estar errado se disser que não se perde uma perseguição, uma iniciativa de fuga ou uma roda «fundamental» ao moderar a velocidade numa zona potencialmente perigosa, para tentar prevenir qualquer imprevisto.
Lembrem-se: pode não parecer nalguns momentos em que a intensidade tolhe a razão, mas o trânsito não está interdito! Talvez, um dia, como dizia o espantado Rocha, quando as voltas não se fizerem sem batedores. Uma premonição!
Média final para 123 km: 35 km/h.

8 comentários:

Rocha disse...

Boas pessoal,

Julgo nunca ter feito uma volta tão rapida,note-se que fui com a luz do "óleo" a acender desde Alverca(ida),até ao final Frielas.
É de se tirar o chapéu á velocidade imposta pelos homens que puxavam na frente,de qualquer forma não invalida a meu ver,de se abrandar um pouco nas rotundas,cruzamentos,localidades e semáforos,isto para não haver muitos finais iguais ao de domingo.

P.S.Imaginem isto para Santarem...

Garfield valeu.

Rocha

Anónimo disse...

Boa Tarde
So uma alusao aos "forasteiros" , nao sei qual o significado se (positivo/negativo)... Vendo bem as coisas parece me que o vosso grupo é muito bem composto em numero e em qualidade , mas os tais forasteiros , e nao sendo convidados , tb alargam em quantidade o vosso grupo...

Ricardo Costa disse...

Resposta ao comentário anómino:

Naturalmente, o significado da expressão «forasteiros» ou «outsiders» nesta crónica é positivo. A alusão que fiz tem a ver com um comentário à crónica da semana passada, quando referi a intromissão de «forasteiros» no sprint de Vila Franca.
Sobre «alargar a quantidade», reforço: também alargam, e em muito, a qualidade. E por isso são sempre muito bem-vindos. São eles que contribuem para colocar bem alta a actual fasquia do grupo Pina Bike.

Capela disse...

Boas companheiros de luta,

Que loucura a volta de domingo! Muito fixe! Apesar de ter sido eu o acidentado fica o aviso que não estarei no próximo domingo por motivos pessoais. Mas no seguinte lá estarei! Obrigado pela atenção de todos (mensagens e telefonemas)e um agradecimento especial ao capitão Freitas e amigo, e aos meus conterrâneos: Daniel e Miguel.

Abraço,

Capela

Anónimo disse...

Boas, há muito que leio estas cronicas e a vontade de me juntar ao grupo, não faltava... Desta foi de vez fiz-me a estrada e lá apanhei o comboio na passagem por Alhandra, onde o ritmo vinha ja altissimo, conforme podem comprovar no relato do Ricardo. O que posso resumir de tudo isto é que foi um Domingo muito bem passado, cheio de vontade de repetir.. (Um Dominigo? não, umas horas, pois com a elevada média horaria, os km passa a correr..!)
As melhoras para o Capela, nem fazia ideia do acidente, pois deixei o grupo em Vila Franca...

Até Domingo.

Fábio Vitorino

Anónimo disse...

Bom tarde,
Depois de ler a crónica da volta desta semana, estou curioso de saber quantos elementos chegaram ao final da volta em pelotão????, se inicialmente eram 40, quantos chegaram em grupo???, porque segundo a crónica o pelotão começou a partir-se desde Alverca (mas à ida).
Sinceramente e esta é uma opinião muito própria, não quero que de forma alguma melindrar ninguém, não me parece que seja este o espírito que foi criado inicialmente para estas saídas, acho que o grupo se partir 5 km depois da saída, não é de forma alguma benéfico para o espírito de grupo que deveria e se queria implementar, competição podemos perfeitamente faze-la em datas agendadas, agora todos os fins-de-semana, não me parece minimamente razoável, visto que no meio de tanta correria o discernimento não é o mais correcto, às tantas não se sabe nem se quer saber de quem está, mas somente não ficar apeado, tenho pena de não se poder sequer convier ou cavaquear com os novos elementos que aparecem, porque na realidade não existe tempo nem sequer para se perguntar o nome, não me parece que o andamento seja minimamente o adequado para esta altura do campeonato, duvido que o mesmo seja para o mais indicado para qualquer uma do mesmo (mas isso é a minha opinião.).
Só espero, digo isto da forma mais sincera possível, que nunca aconteça nenhum azar e que o mesmo não traga complicações de futuro, porque da forma como já vi algumas situações acontecerem no meio da dita correria, mais dia, menos dia podem acontecer.
Espero que as saídas se mantenham, mas se calhar seria bom alguém reflectir sobre isto......

Abraços e boas pedaladas

Morales

Anónimo disse...

Boas, pessoal !!!
No domingo não consegui alinhar à partida, pelo facto de no sábado ter feito 145km com o Freitas, Samuel, Zé Tó e restantes companheiros. As pernas estavam pesadas e pensei fazer um treino mais curto indo ao encontro do grupo. Nas minhas contas iria encontrar o pessoal entre Vila Franca e Carregado, mas enganei-me redondamente, o encontro deu-se entre Vila Franca e Alhandra devido à elevada média.
Como me encontrava “fresco” apesar do ritmo elevado ainda me senti bem até Sacavém onde se iniciou a subida, optando por meter um ritmo baixo pois a pernas não davam para mais.
Este meu comentário tem como objectivo manifestar a minha concordância com os últimos parágrafos da crónica do Ricardo e com os comentários do Rocha e do Morales, para além de desejar as melhoras ao Capela.
Deveria passar-se um pouco mais devagar dentro das localidades, nos sinais vermelhos e nas rotundas, pois muitas vezes é precisamente nestes locais que existem acelerações não sei se propositadas ou involuntárias.
Acho que a adopção de tais medidas preventivas que em nada estragam a competitividade das voltas domingueiras, podendo sim evitar algum dissabor.
Mas por vezes pensamos que, acidentes só acontecem aos outros, veremos se o grupo vai adoptar uma postura mais defensiva nos locais críticos.
Nota: Quem costuma conduzir o pelotão tem responsabilidade acrescida nesta matéria.
Filipe Nunes

Pedro Fernandes disse...

Parabéns pela crónica
Simplesmente espectacular
Eu sou um dos "forasteiros" do Carregado.
As melhoras do Capela (identifico apenas pelo nome que por vezes oiço no grupo).
Não esquecer que temos sempre oportunidade para aumentar a velocidade em detrimento dos lugares/povoações em que a passagem requer mais moderação.
Não vi o acidente, descolei no topo da subida da apelação e voltei para o Carregado -- como domingueiro já tinha a minha dose foi empurrar a bike até a casa.
Partilho da opinião do Morales, é muito agradável conseguirmos um grupo de 40 ou mais atletas mas colocar um ritmo certo voltando para trás em cada 30Km ou esperando na rotunda x pelos atrasados/grupos é de todo interessante para a camaradagem e espírito de grupo e permite assim cada vez mais aumentar o grupo.
Para reflectirmos
Boa volta no domingo, estarei ausente. Previsão meteorologia: Nublado 17º de Max e 11º de min.
De certo que vamos chegar aos 100.
Boa volta domingo.

Pedro Fernandes