segunda-feira, novembro 07, 2005

Correria desenfreada

Já se sabia! Ota é sinónimo de velocidade e escaramuças. E embora não seja grande apreciador deste percurso, a verdade é que desta vez (mais uma) a «corrida» foi espectacular. Não só pelo ritmo, como pelas muitas lutas que se travaram, praticamente de início a fim, confirmando também a forma muito boa de alguns elementos – de resto, já referenciados neste blog.
Foi uma correria e tanto! Começou à saída de Vila Franca, quando o grupo se partiu devido ao empedrado (e preciso estar sempre com muita atenção!), obrigando-nos a uma perseguição até praticamente ao Carregado. No pequeno pelotão da frente estava gente muito forte, como o Freitas, o Miguel ou o João. De qualquer maneira, a coisa fez-se sem grande desgaste, graças a um eficaz trabalho tripartido: meu, do Carlos e do Pedro.
A segunda batalha foi previsível, ou seja, na secção mais selectiva de todo o percurso: a subida para o Vale do Brejo (2 km), a seguir à Ota. Logo no início, o Pedro saiu com força, respondendo prontamente o Carlos e logo a seguir o «Mapei». O Miguel não tardou também a iniciar a perseguição e juntou-se ao trio.
Preferi controlar o quarteto à distância de cerca de 30 metros, sabendo que o Freitas (teoricamente o mais forte neste tipo de subidas curtas) estava na minha roda. A opção foi um risco, mais ou menos calculado, porque a subida passa depressa e há pouco tempo para recuperar de um atraso significativo. Felizmente os fugitivos pararam depois do ligeiro descanso a meio da subida – marcaram-se ou nenhum teve capacidade para manter o ritmo – e nessa altura encostámos. A partir daí, sentindo-me com reservas, sabia que para tentar bater o Freitas teria de antecipar a aceleração final – e mais importante: conseguir manter a vantagem durante 300 ou 400 metros, até ao alto. Preferi sair com a pedaleira pequena, para diminuir o choque, mas após 100 metros vi logo que era necessária a grande. O Freitas teve dificuldade em responder (o mesmo já se tinha verificado a semana passada, à chegada ao Carregado, em terreno plano) e os cerca de 20 metros que abri no arranque foram suficientes para resistir até final. Fiquei satisfeito, como sempre que consigo fazer diferenças em terreno… adverso.
No entanto, logo a seguir, após ter parado alguns minutos para «mudar a água às azeitonas», fui injusta e lamentavelmente penalizado. Depois do reagrupamento, voltaram a acelerar, forçando-me a um contra-relógio louco de 10 km até Azambuja. Ainda bem que tenho bom cabedal para levar umas coças, pois, caso contrário, não mais apanharia o pelotão, o que seria, penso eu, escusado – era o que certamente aconteceria ao Samuel se, por acaso, eu não estivesse lá para o rebocar (menos sorte teve o senhor gordo que não conseguiu aguentar o ritmo).
À entrada de Azambuja a normalidade restabeleceu-se, mas rapidamente se partiu para outra correria. O grupo voltou a dividir-se devido à passividade (ou displicência?) de alguns elementos que ficaram para trás, e depois do mal estar feito houve que fazer nova perseguição. E que perseguição! Os que ficaram no grupo da retaguarda (entre outros, eu, o Miguel, o Freitas, o Pedro e o Steven) levaram uma valente lição, já que os homens que comandavam (destaque para o João, o Farinha, o Carlos e o Luís – perdão se algum faltar) fizeram um excelente trabalho (será que foram a render, e quem?), segurando uma vantagem de 300/400 metros que teimava em não diminuir, mesmo que atrás se rolasse sempre acima dos 40 km/h. À frente ritmo era tal, que o grupo foi perdendo elementos. A dificultar, atrás, o esforço de perseguição estava entregue apenas ao Freitas e ao Miguel – não colaborei para «compensar» o desgaste a que fui sujeito pouco antes.
A recolagem só aconteceu em Castanheira do Ribatejo – mas a obra estava feita e teve factura elevada. De qualquer maneira, ainda houve forças para o tradicional sprint em Vila Franca, onde o Freitas levou vantagem, tirando, aí, definitivamente o bilhete, já que o ritmo não abrandou, por iniciativa conjunta do João, do Miguel, do Carlos e do amigo do Pedro. Eu voltei a ter de correr atrás, só os apanhando em Alhandra - despedindo-me em Vialonga, depois de passar por Forte da Casa.
No final: 107 km e 3h30 - e exceptuando o tempo e a distância(13 km e 36 minutos) que fiz até juntar-me ao grupo, no Tojal, o quinteto que chegou à frente fica com a impressionante média de 32,4 km/h!!
Para terminar, deixo as habituais notas de observador: o João fez uma volta impressionante, principalmente ao não deixar que houvesse momentos de relaxe a partir da Ota – contribuindo decisivamente para aumentar a espectacularidade da tirada e provocando grande desgaste a algumas figuras de proa, entre elas, eu próprio. O Farinha também andou quase sempre na frente, como é seu apanágio.
Por outro lado, o Carlos, continuo a dizer, é actualmente o mais forte, mas ainda não teve palco à sua medida para o demonstrar cabalmente. Talvez o faça na próxima semana, a conformar-se o Gradil. Todavia, não terá a tarefa facilitada. Para fazer diferenças, além de qualidades de trepador é preciso ter experiência. E quando o terreno empinar, com certeza surgirão os trepadores natos, entre eles, o Miguel, que não vai querer deixar fugir a oportunidade de aferir… sensações. E eu, só se não puder!
De qualquer maneira, o percurso da próxima semana implicará uma abordagem mais cautelosa. A ver vamos...

7 comentários:

Anónimo disse...

Cada vez gosto mais do espírito que actualmente se vive nesta "COMUNIDADE"!...Sem dó nem piedade de princípio a fim em todas as voltas!!!
Isto sim, quase que é ciclismo a sério, exigindo uma preparação, ou no mínimo, uma manutenção exigente!
Quem se descuidar no treino, começa a ter dificuldades em acompanhar este grupo de "DUROS"!
Bem hajam pelo espírito e vão colocando as "barbas de molho", pois cada vez é mais difícil aguentar andamentos fortes durante períodos tão longos.
A confirmar-se o GRADIL, a volta promete...
FANTASMA

Anónimo disse...

Esclarecimento ao amigo Miguel, os 14 min. que reduziram entre o "alto" (9 min. de atraso)e o final (- 5 min.) tem a ver com o encurtamento do percurso em cerca de 10 km's (na rotunda a seguiu ao "alto" não cortaram a esq. pª Aveiras, seguiram em fr. pª Azambuja), e não com o andamento elevado! Assim pela volta "completa seriam mais 17,5 min. (10km's a 34,5km/h), isto significa que teriam terminado a volta com mais 12,5 min. (17,5 min. - 5 min.)!!!

Portanto nada de ilusões!

Anónimo disse...

Tem razão o nosso amigo analista perspicaz. Fazem sentido os 9 minutos perdidos até ao alto (naquele dia de Junho o andamento foi muito forte desde Alverca e a partir da Ota, então, foi alucinante). Mas os tempos da segunda metade do percurso (+ 3,5 min) resultam de uma média de 34,5 km/h meramente teórica, porque importa salvaguardar o facto do troço entre o alto e Azambuja por Aveiras é mais rápido que o atalho, e que depois de Alverca segui-se em frente para o Forte da Casa, pela EN10, com três rotundas, um lanço de estrada a subir em muito mau piso e um cruzamento. Ao contrário, do que indo pela Sagres, cuja subida é rápida, directa e em bom piso.

A verdade acima de tudo, mas nem por sombras deslustra a magnífica prestação do grupo no último domingo. Essa não foi ilusão!

Anónimo disse...

... E mais: naquela altura do ano aqueles a quem chamam de «profissionais» estavam no pico da forma. Desta vez, a maior despesa foi feita pelos ditos «amadores». Aqui reside a maior diferença!

Fica a nota adicional

Ricardo Costa disse...

E também não se pode deixar de contabilizar o tempo que o Miguel diz que perdeu para os primeiros à chegada a Loures - 2 minutos. Assim, a diferença de tempos na segunda parte do percurso baixa para apenas 1,5 minutos a favor de Junho.

Anónimo disse...

Sinto-me injustiçado! Isto de não ser vedeta do pelotão leva a que os jornalistas nem se lembrem de nós. Refiro-me ao percurso entre a Azambuja e o Carregado, em que eu e o Daniel estivemos a dar o litro em colaboração com o Miguel e o Freitas no sentido de recolar ao grupo de fugitivos.
Existe um termo militar nos EUA que encaixa bem neste contexto, e que reflecte o meu actual estado de espírito: F.U.B.A.R. - Fucked Up Before Any Recognition.

Ricardo Costa disse...

Desde já, as minhas desculpas L-Glutamina e ao Daniel pelo lapso, mas acreditem que com este aumento exponencial de competitividade no seio do grupo, começa a torna-se difícil aperceber-me de todas as incidências da «corrida», mesmo estando dentro dela.
De qualquer modo, pelos vistos outras oportunidades de fazer justiça à tua (vossa) prestação não hão-de faltar, ao que parece, a primeira, já amanhã. Mas para melhor observação, o ideal seria eu poder assistir... de frente. Para isso, conto com a tua colaboração