quinta-feira, novembro 24, 2005

Dureza

Questionava, em conversa com o Freitas, mais uma vez sobre as razões que têm motivado tão longa ausência do Nando. Mas sem êxito. Nestas ocasiões fico sempre a lamentar a falta que ele faz ao nosso grupo, pela sua camaradagem, pela disponibilidade física quase inesgotável, pela sua atitude felina. Também me vêm há memória os treinos que fizemos os dois na última temporada, de Fevereiro a Abril. Sempre com muita «dureza», como ele costuma dizer. O homem não gosta de estar mal, nem de esticões, dá-se mal com isso, prefere meter «ferro» e colocar o comboio a alta velocidade quilómetros a fio. Por vezes, esquece-se do esforço que está a fazer e do tempo, tal a força que tem. Recordo-me, por exemplo, de um treino, entre Torres e o Bombarral, «numa estradinha que é um mimo», como ele próprio definiu, em que logo à saída de Torres meteu aquele seu passinho pesado, entre os 35 e os 40 km/h, o peito ao vento, a cabeça (sem capacete) presa ao guiador e deixou de falar. A estrada é lisa e ondulada, e lá atrás eu parecia um yô-yô. No plano afastava-me, nos topos aproximava-me. Sim, porque o aço também verga. Ainda pensei em dizer-lhe para abrandar, para descansar um pouco, para me deixar puxar, mas mais… devagar. Mas não o fiz por parecer um sacrilégio interromper aquele trabalho. Chegámos ao Bombarral, demos a volta por Pêro Diniz, Vilar e o homem sempre a puxar. Na subida para Vila Verde dos Francos passei pela frente, mas pouco, o homem não deve ter apreciado o meu atrevimento. Foi nisto até aguentar, e queria levar-me a casa por Alenquer e Vila Franca. É pá, não! – pensei - vamos cortar já aqui na Merceana direito ao Sobral. Só aí, na longa subida, começou a dar sinais de fadiga. Certamente o desvio não estava no seu programa. Mais tarde contei-lhe o que se passou. Senti-me na obrigação de justificar porque é que quase nunca passei pela frente. Ficou indignado, pediu-me que, para a próxima, lhe dissesse para ir mais devagar. «Oh Ricardo, quando é assim dizes… não vale a pena irmos assim». «Irmos assim». Terei ouvido bem? Mas é que podes mesmo crer que digo!
Outra vez, foi no final de um treino longo, mas mais relaxado. O homem nesse dia «não queria fazer força». Descíamos da Venda para Lousa, quando lhe perguntei se queria fazer um desvio e subir Montemuro. A resposta foi mais ou menos assim: «…, …, …, tá bem, bora lá…». Pensei cá para mim. Fresquinho, dá para fazer a subida como se estivesse num treino de montanha – a fundo desde cá de baixo, nem mais nem menos –, o que, nas minhas contas, seria suficiente para o manter na minha roda a subida toda. Ataquei a primeira rampa em pé, sentei-me em frente ao cemitério, mantive o ritmo estabilizado, a fundo. Com ele sempre atrás de mim. Entrámos no pinhal e, de repente, ele passou para a frente. Para ajudar, pensei. Mal!! Foi para forçar, forçar, forçar… e eu a morder-lhe a roda com toda a força que podia. E rapidamente entre naquela fase Zen, em que a cabeça começa a funcionar a mil por hora, os andamentos parecem desajustados: meto uma acima, demasiado pesado, meto uma abaixo, demasiado leve. É cerrar ainda mais os dentes e acreditar! O suplício aliviou quando chegámos a Carcavelos (às primeiras casas) e o terreno suaviza. Pensei logo, o homem pensa que a subida acabou. Então tomei a dianteira e fizemos assim o resto, ao meu ritmo, com a intensidade do início da subida, até ao cruzamento de S. Estêvão das Galés – onde para mim pára o cronómetro. Quando lá chegámos, o tipo exclamou: «Vejo-me sempre à rasca contigo no início das subidas, porque as fazes logo ao máximo. Não sei como consegues, mas é mesmo teu». Ai, sim? Fui o resto do caminho até casa a pensar o que se teria passado, porque é que tinha fraquejado se antes vinha folgado e não estava nada à espera que o Nando me fizesse amargar daquela maneira. Em casa, em frente ao computador, tive então a resposta: tínhamos retirado 1 minuto ao meu anterior melhor tempo. 1 MINUTO!!!... em apenas 4 km! Hoje ainda continua a prevalecer, e certamente irá continuar… Aparece aí, oh Dureza!

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia ao "Painel",
Faço questão de também deixar uma palavra de apreço ao Nando e à sua profunda simpatia enquanto amigo e companheiro nas voltas de Domingo. Sei que não será fácil porque eu e ele aparecemos pouco...mas fica o registo de Saudade da sua presença.
Quem o vir, de-lhe e abraço.

Já agora, qual é a volta de Domingo???

Boas pedaladas,
ZT

Ricardo Costa disse...

Caro Zé-Tó, creio que a volta será a mesma que estava prevista para a semana passada e que devido à intempérie não se realizou - ou pelo menos na íntegra, pelo grupo de resistentes à chuva.
E será a seguinte: Loures-Tojal-Bucelas-Forte de Alqueidão-Sobral-Arruda-Cadafais-Carregado-Alenquer-Porte de Luz-Merceana-Sobral-Bucelas-Loures. Rasgadinha, como se quer!

Abraço

Anónimo disse...

Se chuver, cá estarão os verdadeiros duros: L-Glutamina, Miguel e as duas miudas da BTT (será que desta vez aguentam a pedalada?).
Haverão mais candidatos???
Espero para ver.

L-Glutamina - Over and Out

Anónimo disse...

Ricardo, a volta por si só já assusta q.b. mas o pior foi ter lido que a mesma vai ser..."rasgadinha"!!!
De facto, para mim, o simples facto de estar presente dará sentido à adjectivação por ti utilizada, ahahah.
Mas o pior de tudo é que parece que irá estar de chuva.
Como disse o "Carmichael(o nosso)" passadas 2 semanas sem treinar, tudo o que se tinha, perde-se.
Este é o único comentário que me satisfaz e que me motiva a aparecer Domingo, é q n tenho nada "para perder"!

1ab,
ZT