segunda-feira, agosto 06, 2007

Marginal-Sintra: a crónica

A volta deste domingo teve o melhor e o pior. Comecemos pelo pior. A queda do Polícia e do Renato Hernandez na descida da Peninha, que deixou o primeiro bem marcado e em sofrimento no regresso a Loures. Alertara com veemência, neste blog, para a perigosidade da descida (muito íngreme, estreita, sinuosa e com mau piso), mas, ao que se sabe, o motivo da queda foi desconcentração do Renato devido à perda de um bidão. Um incidente lamentável que ensombrou uma tirada que tudo teve de espectacular: pelotão enorme, andamento vivo, fugas, perseguições, terreno de predilecção para roladores e trepadores e alguns sprints fortíssimos.
O impacto causado pela projecção desta super-volta, a atracção do belíssimo percurso pela Marginal e Sintra ficou, desde logo, comprovado pelo extraordinário número de elementos à partida de Loures, para a partida justificadamente antecipada em relação à hora habitual, devido à distância e dificuldades da tirada, que muito cedo conheceu animação: fuga inesperada protagonizada por quem não devia ter muito espaço de manobra. Conta-se assim:
À passagem por Cabo Ruivo, adiantei-me algumas dezenas de metros ao pelotão sem que nada tivesse feito por isso, e surpreendido vejo o Freitas passar «directo». A reacção do pelotão tardou e após alguns instantes em posição intermédia, acelerei para me juntar, formando o duo, que passou de imediato ao esforço conjunto de consolidar a fuga, principalmente depois de também o Henrique e o Salvador terem chegado.
Durante os primeiros quilómetros, a escapada foi-se cimentando, já com o pelotão na perseguição, sempre com os fugitivos à vista. O trânsito e os semáforos junto ao Terreiro do Paço e Cais do Sodré jogaram a favor do quarteto, mas à passagem por Alcântara era visível a aproximação de um duo – situação que surpreendeu. Quem teria saído do pelotão, procurando juntar-se à fuga? A resposta surgiu entre Belém e Algés, quando o quarteto passou a sexteto, com a integração do Jony e do Hélder. A entrada dos perseguidores no mini-grupo ainda causou alguma agitação, mas só serviu para condenar a fuga ao malogro, pois junto ao Aquário Vasco da Gama, o pelotão, conduzido pelo Paulo Pais, estava de novo compacto.
A partir daí, rolou-se sem mais novidades até ao Cascais e em toda a ventosa estrada do Guincho – a não ser as «entradas» do Rui Scott e do Miguel Marcelino e o seu amigo de Montejunto. Prestes a deixar a planície da Marginal, entrando nas vertentes da Serra de Sintra, eis um furo a forçar a uma paragem de alguns minutos, que teve o condão de arrefecer os ânimos.
Ao retomar-se a marcha, já só sobrava o grupo dos que queriam «disputar» a longa subida até ao alto da Peninha. A este juntaram mais alguns elementos, entre eles dois «federados» da equipa Janota & Simões, Henrique Janota e Vítor Faria, engrossando a lista de candidatos.
A abordagem à subida foi cautelosa, mas com andamento muito bom, imposto pelo Paulo (Franzino), que soube conduzir o pelotão (ou o que restava dele) até depois da Malveira da Serra, realizando um trabalho muito meritório, de voluntarismo elogiável. Ao surgir as primeiras vertentes expostas ao vento, a caminho da Azóia, o Paulo cedeu a sua posição e o grupo, agora sem «condutor», começou a desgarrar-se, tendo o Vítor Faria tomado as rédeas. Mas acabou por ser o Freitas, logo a seguir (cerca de 1 km do alto), que fez a verdadeira mudança de ritmo, obrigando o grupo a cerrar fileiras.
Na aproximação do Prémio da Montanha (Azóia), surgiu mais um «reforço»: nada menos que o Rui Rodrigues, que veio ao nosso encontro, e passou imediatamente... ao ataque! A tirada estava mais aberta que nunca, e ainda não se tinha entrado na fase decisiva.
A ligação ao cruzamento do Cabo da Roca foi rápida e ainda mais frenética foi a entrada na subida final, para a Peninha. O primeiro a acelerar foi o Hélder, ao seu estilo, mas o Freitas não fez por menos. As respostas não se fizeram esperar, principalmente dos Janotas, do Rui Rodrigues e do Paulo Pais. O ritmo das primeiras centenas de metros foi vivíssimo!
Refira-se que a subida tem 3,2 km e inclinação média superior a 6%, incluindo um curto descanso e uma breve descida (acentuada) lá mais para cima. Ou seja, atacavam-se «como se não houvesse amanhã» as primeiras rampas, certamente a mais de 8%. A selecção fez-se sem surpresas: Rui Rodrigues, os dois Janotas, Paulo Pais, Freitas, Jony, Hélder, eu e o rui Scott.
Mas não se pense que ficou por esta ordem! Começaram a «sair» as primeiras facturas: o Freitas e o Hélder pagaram a ousadia da entrada e à passagem do km inicial já estavam fora de combate. Lá à frente, o Rui Rodrigues parecia ganhar vantagem, mas os Janotas lutavam por se manter em jogo. O Paulo Pais começava a acusar o esforço e o Jony também teve de encontrar o seu ritmo. Em nítido ascendente estava o Rui Scott, que rapidamente fechou o espaço de 20/30 metros para os homens da frente, onde Vítor Faria também fraquejava e o Rui Rodrigues não tinha capacidade de seguir o ritmo do Henrique Janota e do Scott. Nesta altura, depois de também ter encontrado o meu ritmo, começava a recuperar, ultrapassando o Paulo Pais e o Vítor Faria ao último descanso da subida, antes da pequena descida e da duríssima rampa final (200 metros). Lá à frente, o Rui Scott fazia o Henrique Janota «sofrer», enquanto o Rui Rodrigues tentava atenuar o «prejuízo» para aquele duo, mas via-me chegar praticamente à sua roda, tal como o segundo Janota, que, num lampejo final, chegou connosco.
Mais atrás, o Paulo Pais, o Jony, o Freitas e o Hélder. Mas não só. Os restantes, com destaque para o Paulo (Franzino), o João (do brinco) e o Salvador, autores de excelente subida, mas também o Polícia e o Renato (que viriam a sofrer quedas na descida que se seguiu), o Steven, Carlos do Barro, ZT, etc... sem esquecer o insuperável Abel.
O regresso a Loures ainda teve outro momento de grande intensidade. Uma fortíssima chegada a Sta. Eulália e um sprint de «prós» no topo de Guerreiros, demasiado musculados para mim...

Notas de observador

Ponto prévio, muito importante: qualquer dos novos «inquilinos» – nomeadamente, o Rui Rodrigues, os dois Janotas e o próprio Rui Scott, sem desprimor do excelente desempenho nesta parte decisiva da subida, encontravam-se em posição de indiscutível vantagem sobre os demais, que arrancaram de Loures em plano de igualdade e, naquela altura, já contabilizavam 70 km e considerável dose de ácido láctico nas pernas.

Elogio à forte mobilização para esta volta, correspondendo aos fortes aliciantes do percurso, mas também prova que o nosso grupo está bem e recomenda-se!

Elogio à presença do Paulo Pais, que além do seu inquestionável companheirismo, demonstrou estar em muito boa forma. Amigão, estiveste bem na subida da Peninha, e creio sinceramente que se tivesses optado por não tentar ir com os primeiros logo no início, chegarias ao alto com eles!

Elogio ao excelente momento do Jony. Na minha opinião, actualmente é o mais forte do nosso grupo. Pode não sê-lo ainda nas subidas mais selectivas (como a de ontem, mas não pela inclinação, mas devido ao andamento), mas demonstra-o, sem dúvida, na enorme disponibilidade física em todo o tipo de terreno. Impressiona só de ver! Só o passo que meteu à frente do pelotão na perseguição à fuga fez com que saísse dele – só o Hélder o acompanhou! E depois, praticamente sem a ajuda deste, recuperou para se juntarem aos fugitivos. E ao sprint ainda está para vir quem... lhe dê luta.

O Freitas também exibe grande forma, mas que leva-o a cometer alguns excessos (ou talvez, precipitações), como a de ontem, à entrada da subida final, que o impedem de retirar o melhor proveito desse bom nível. Ou seja, ao atacar ou meter andamentos demasiado altos em subida, contraria as suas próprias características, o que acaba por jogar contra si. O que ontem fez à entrada da subida da Peninha não é para um ciclista com o seu peso, é para trepadores franzinos. Mas não só, os efeitos colaterais ainda foram mais graves. Com aquilo, espicaçou a forte concorrência e assim colocou logo em xeque o seu desempenho na subida.

Aliás, ontem, o próprio Jony acabou por ser «vítima» desse erro estratégico do Freitas. É-lhes favorável que, em subida, o ritmo não seja tão intenso, para, mais acima, poderem aplicar a sua capacidade de mudar de velocidade. Aliás, isso já vai acontecendo durante o ano, em subidas como Mata e Ribas, inclusive em situações em que (neste caso, o Freitas) já tem tirado vantagem de ser ele próprio a meter o passo que mais lhe convém (rijo, mas não demasiado). Assim, impede que outros giram a subida à maneira que mais lhe convém ou sucedam mudanças de velocidade desfavoráveis, aplicando no final a sua explosão muscular para tentar fazer a diferença. Mas, como ele habitualmente diz, outras ocasiões para rectificar não faltarão!

Outro elogio, para o Rui Scott. Pela presença e pela exibição em Sintra. Depois de ter surpreendido em Fátima, em finais de Abril, voltou a brilhar, com grande classe, desta vez frente a concorrência (ainda mais) competitiva. Eu fui observador privilegiado da sua excelente subida. Em progressão, foi galgando terreno com facilidade até alcançar que se adiantaram nas primeiras rampas, «vergando», no final, a sua derradeira companhia. Apesar de, como referi na crónica, estar com alguma vantagem em relação aos que fizeram a volta completa. Porém, em igualdade com os seus principais «adversários» na subida, os Janotas e o Rui Rodrigues! E contra estes foi nitidamente superior. Além disso, é pessoa humilde, o que joga ainda mais a seu favor! Pena que a sua presença seja apenas em... ocasiões especiais, onde deixa sempre a sua marca!

Não tenho memória de ter empenhado tanto esforço, como ontem na subida da Peninha. Desde a base até ao alto, sempre acima das 180 bpm – o que quer dizer que, com «aquelas» penas, não poderia ir mais depressa. A entrada foi vertiginosa, o que me deixou «aos papéis», mas rapidamente entre no «meu» ritmo e não posso deixar de ficar satisfeito com a minha prestação. Apesar do sofrimento, as sensações foi sempre positivas e a melhorarem com desenrolar da subida. O Rui Scott e o Henrique Janota estavam fora do alcance (chegaram ao alto com aprox. 20 segundos de vantagem) numa ascensão tão curta, mas fica o consolo ter chegado na roda do Rui Rodrigues.

Também gostei muito da entrega às dificuldades e a boa forma do João do brinco e do Salvador.

7 comentários:

Anónimo disse...

Belos relatos, belas voltas e muito ácido!!

Parabens pelo grupo e pelas iniciativas. Parece me bastante interessante integrar este pelotão!

Aqui fica um abraço de um fã remador!
(principalmente para o "mais corpulento" e o "mais franzino")

Anónimo disse...

Há maneiras estranhas de ver as coisas,e de escrevelas?

Anónimo disse...

Caríssimos;

Antes demais gostaria de desejar as rápidas melhoras ao Policia, espero que regresse rapidamente ao asfalto.

A volta foi excelente, para tal numero de ciclista já merecíamos dois batedores a abrir alas e a mandar parar o trânsitos nos semáforos.

Proponho que da próxima incursão pela marginal a volta se faça ao contrário, no Estoril se vire para Alcoitão, se vá até São Pedro e a subida à Serra seja feita por esta vertente, depois que se desça para o Cabo da Roca, Almoçageme, Colares. De Colares que se suba para Sintra de regresso a São Pedro e se volte em direcção ao Estoril, depois da Quinta da Beloura vira-se à direita e vamos para a subida da lagoa Azul. Penso que gosta de trepar, vai adorar fazer esta subida.

Paulo (franzino)

Anónimo disse...

Outra visão dos mesmos acontecimentos....
Tantos elogios a elementos que nao fizeram a primeira parte da volta (esforço enorme na eleminação da fuga) parece-me de todo dispensável,assim como a fuga desencadeada pelos mais fortes do pelotão.Quanto à referência a um notável como elemento preponderante nesse mesmo esforço de recolagem não sei a que propósito é feito visto o mesmo só ter aparecido na fente do pelotão quando da recolagem. No que diz respeito à subida propriamente dita muitos dos elementos aqui referenciados sairam do guincho após a paragem com alguns minutos de avanço.

Ricardo Costa disse...

Registo, com apreço, os comentários e as críticas à minha crónica, nomeadamente a última, mas esta ganharia outra legitimidade se o seu autor se identificasse.
Deste modo, teria todo o prazer em discutir pontos de vista que não são e nem deveriam ser iguais. Assim, perde-se infelizmente muito do conceito que prevalece (ou devia) a este blog: precisamente o confronto de opiniões.
Aliás, porque, como repórter-participante, não poderei ter a visão abrangente do que se passa, que seria exigível para a reporduzir mais fielmente os acontecimentos. Também para isso este blog serve: para cada um dizer de sua justiça.
Aliás, era um saudável hábito de muitos visitantes, que também infelizmente se veio perdendo. Certamente a frontalidade ajudaria a mudar certos «vícios» de que este grupo (ainda) enferma.

Ricardo Costa disse...

Pois bem, eu digo de «minha justiça» que quando o autor da crónica afirma que o João (Jony) é o mais forte do grupo neste momento só pode ser por simpatia ou por falsa modéstia.
Em condições normais, o dito «mais forte do grupo» ainda não demonstrou ser capaz de fazer diferenças em pontos quentes de andamento livre, a não ser ao sprint, onde é de longe o melhor. Ele anda realmente muito bem, mas só por muita simpatia ou falsa modéstia se poderá dizer que ele tem o andamento em subida dos melhores.

Para bom entendedor meia-palavra basta!

Homem do Talho

Anónimo disse...

estão a falar do quê e de quem ,Jalabert ? Tom Bonnen ou será de >Miguel Indurain

o homem da charcutaria