domingo, agosto 27, 2006

Enorme Montejunto!

Um ataque do Carlos, à saída da Atalaia, surpreendeu o grupo e marcou definitivamente a subida de hoje a Montejunto, colocando em causa, inclusive, a lei dos «internacionais».
A volta já se sabia difícil e foi ainda mais devido à forte nortada que soprava, por isso não se previa que o andamento fosse tão rijo logo a partir de Bucelas até ao Forte do Alqueidão. O Nuno Garcia deu o mote a seguir à Bemposta e o Freitas rendeu-o mais adiante, fazendo as despesas de quase toda a subida, fortemente castigado pelo vento. Ficava desde logo evidente que a etapa iria ser ainda mais selectiva. Todavia, ao contrário do habitual, não houve acelerações nesta fase, tendo o grupo chegado compacto ao Alqueidão.
À saída do Sobral, a caminho da Freiria, o Nuno volta a tomar as rédeas, obrigando o grupo a cerrar fileiras na descida. A calmaria só regressou à entrada da Merceana, antes das rampas de Freixial de Cima e Cortegana começarem a dar um cheirinho da serra. Então, à saída da Atalaia o pelotão retraiu-se e o Carlos sobressaiu, causando surpresa pela coragem de querer enfrentar sozinho o terreno que começa a empinar e o vento contrário. Imediatamente, houve quem não lhe augurasse grande sucesso. Erro crasso, como depois se viu…
Uma iniciativa perfeita, no melhor local e na melhor altura – quando toda a gente começava a fazer contas de cabeça para Montejunto. Nem precisou de acelerar muito, só de manter a velocidade durante a subida (difícil) e no falso plano ascendente que se segue, também muito exposto ao vento. O pelotão manteve-se na expectativa, aparentemente tranquilo, mas não demorou muito a que as vozes se calassem e se passasse à perseguição. Tomou as rédeas quem mais tinha trabalhado até ali: Freitas e Nuno. Mas rapidamente se verificou que a tarefa exigia mais colaboradores. E não havia! Por isso, a fuga começou a ganhar contornos mais vincados. Preocupantes. Antes de começar a descer para Vila Verde dos Francos já havia a certeza que não seria anulada antes de entrar na subida de Montejunto e ficou ainda mais sólida quando os dois lideres desamparados do grupo perseguidor mostraram a revolta e abdicaram. Nesta altura, o Zé-Tó parecia com dificuldade em acreditar no que estava realmente a suceder.
Mas ainda estava para vir o segundo capítulo: a subida. A entrada, muito dura, deu mais do mesmo! Ou seja, entre os «internacionais» a desorganização acentuou-se, de tal modo que o Salvador, o Samuel e o João chegaram a adiantar-se. O Carlos, à frente, beneficiava da apatia. O Freitas teve de assumir a perseguição, com o Nuno em tímida colaboração. Eu sempre na roda. Na primeira contagem de tempo, a olho, antes da ligeira descida, a vantagem do Carlos rondava 1 minuto. Veredicto: para já, uma distância confortável e embora ainda restasse muito e o mais difícil para subir, a missão de anular a fuga começava a complicar-se sem uma inter-ajuda efectiva.
Então o Freitas quis testar a reacção dos seus dois parceiros. Sentir o pulso ou talvez espicaçar! Talvez saber se a razão da minha inércia seria… incapacidade? A resposta terá sido esclarecedora, mas sem contra-ataque.
Estávamos a entrar no segundo maciço da serra, na zona de floresta, e apesar de se ter recuperado cerca de 10 segundos para o fugitivo, a perseguição dava sinais de fraqueza. As esperanças de entendimento tinham acabado definitivamente. Prova disso foi o Nuno ter recuado para a minha roda, deixando ao Freitas as despesas da perseguição. No topo antes da segunda descida (para o cruzamento do quartel), este voltou a tentar livrar-se da (má) companhia. Mais uma vez, sem êxito.
Na fase final da subida, a mais dura, a partir do quartel, o Nuno começou a dar sinais de estar em dificuldades, passando para a ponta do elástico. À frente do trio perseguidor ainda e sempre o Freitas. O Carlos lutava para preservar uma vantagem que lhe permitisse chegar isolado ao alto – nesta altura pouco mais de 20 segundos. Então, a cerca de 700 metros do alto, o Nuno cede e libertou-me das amarras (coisas da táctica!). Passei para a ilharga do Freitas e forcei, depois dei uma sacudidela forte com resposta, descanso, e logo a seguir outra, decisiva. Logo fiquei em cima do Carlos. A 300 metros do cume, acabava a louca aventura do fugitivo. Ainda o convidei a seguir-me nos metros finais (merecia-o, sem imodéstia) mas ele preferiu não forçar, a pensar no… regresso, disse-me! Quem pensaria assim, à beira de fechar com chave de ouro uma grande prova?! Mas, afinal, estamos a falar do senhor «Reservado». De qualquer modo, não precisou de se defender do Freitas – que estava em perda depois de um excelente trabalho durante toda a subida. Também ele com motivos para estar satisfeito com a sua prestação. De resto, tal como o Nuno – a Etapa da Serra está aí!
Referência ainda para as extraordinárias subidas do Salvador e do João – que completaram o lote de notáveis que chegou ao alto de Montejunto.

Notas de observador

O Carlos apostou e ficou a um pequeníssimo passo de ganhar! Todavia, tem o mérito inteiro. Pela coragem, determinação e enorme qualidade demonstradas. A sua prestação tem, no entanto, contrapartidas futuras: a partir de agora, não pode deixar de assumir, em próximas ocasiões, a responsabilidade que advém desta proeza, e que, de certo modo, o colocará perante uma dura batalha pessoal, já que é uma pessoa bastante reservada. Além disso, tão cedo seguramente não irá beneficiar do factor-surpresa que lhe permitiu angariar uma vantagem substancial antes do início da subida para Montejunto, a que inegavelmente não esteve alheia uma certa dose de permissividade, quiçá de menosprezo, dos mais fortes do pelotão – e também de alguma confusão motivada por algumas situações pouco comuns na perseguição.
A diferença abismal que «cavou» para os «não internacionais» é outra conclusão a retirar do seu magnífico desempenho. E não foi só em Montejunto que o Carlos mostrou estar em grande forma. Na subida para o Sobral resistiu, sem vacilar, a um andamento médio de 30 km/h e aos 100 km subiu para o Alqueidão com a mesma frescura com que atacou na Atalaia. Pena que não possa estar na Etapa da Serra da Estrela.

A propósito da Etapa da Serra da Estrela, para dar uma ideia da dureza do percurso A (124 km), basta dizer que o desnível acumulado da volta de hoje (para mim, 133 km) foi de cerca de 1800 metros. No próximo dia 10, vai ser de 2600 metros. Promete!

10 comentários:

Anónimo disse...

oi pessoal, é verdade que fiquei mesmo muito satisfeito com a minha prestação de hoje, só vem provar que a preparação que tem sido feita está a resultar o que me leva a pensar que aquilo no dia 10 vai correr relativamente bem (desde que não vão pendurados na roda do mesmo até ao final da subida). pois é meus amigos se calhar vou ter que começar a guardar-me mais para não ter nenhum "desgosto" nos últimos 400 metros, eheheheh.
alguém vai ter que assumir a dianteira do grupo, ou então divide-se o mal pelas aldeias, mesmo que esteja vento porque lutar contra ele custa a todos.
dito isto penso que toda a gente tem vontade de enfrentar os 2600 metros de desnivel.
mudando de assunto, qual é a volta agendada para o próximo domingo, espero que não seja muito dura.
um abraço a todos
DURÃO

Ricardo Costa disse...

Lutar contra o vento custa a todos, é verdade, mas querer vencê-lo só está ao alcance de alguns. Quando se avança como se o vento não soprasse, a ninguém se pode «pedir» o mesmo.
E, caro Durão, tens realmente motivos para te sentir satisfeito, mas não te podes queixar da maneira como ficaste a sabê-lo. Ou seja, assumindo as «despesas» num momento crucial da etapa e procurando, em alguns momentos, cavar diferenças para os demais. Desta vez, os que se guardaram na tua roda não podem dizer que ficaram esclarecidos sobre a sua boa forma, mas atingiram aquilo que quase sempre te deixa satisfeito: o resultado final.
Todavia, será um erro pensar que no próximo dia 10 as coisas vão ser iguais...
Ok, o que aconteceu ontem foi planeado e resultou em cheio!

Anónimo disse...

iguais não serão de certo,mas no entanto mantenho a minha posição(de defesa)
p.s não tenho nada contra as coisas planeadas nem com o facto de chegar em primeiro ou em último , só acho que se deveriam apontar os planos para mais perto das dificuldades das voltas.
como já tantas vezes fui acusado justa ou talvez injustamente de andar pendurado na roda até ao momento crucial talvez não devesse agora estranhar que me calha-se a mim essa tarefa, mas...não.
um abraço
DURÃO

Ricardo Costa disse...

Caro Durão, mais perto das dificuldades, só se fosse em Vila Verde dos Francos.
Afinal, compreende-se que ninguém goste de provar do seu próprio veneno!
Quanto à defesa, como diz o ditado, por vezes a melhor é o... ataque!

Anónimo disse...

Os internacionais são muito bons mas têm medo de mostrar o corpo ao vento, não necessitam que a 2ª divisão trabalhe para eles.

Anónimo disse...

O que eu acho estranho, é que ainda exista quem aceite ser "queimado" para as "vedetas" brilharem.
Veja-se o exemplo de Montejunto. O Carlos, combinado com o Ricardo, fugiu e foi sózinho enfrentar o vento e a subida, para na parte final abdicar para o chefe, passando este de forma a nem lhe dar hipótese de ir roda, quando o Durão já estava arrumado.

Anónimo disse...

Os internacionais sonham que são bons. Em Espanha e em França, nem cheiram os lugares da frente.

Anónimo disse...

Não dá para acreditar no que aqui se lê!!! Ter um comportamento de “carraça” num grupo de malta amiga… é inaceitável!

A concepção que o autor deste blog tem da modalidade que é o Ciclismo está totalmente distorcida… um comportamento destes até em competição é vergonhoso… e só tolerado pelos colegas de profissão porque estes compreendem que a atitude do atleta se deve ao facto de seguir as orientações do técnico. A entreajuda para com os “companheiros” de estrada é acima de tudo uma questão de respeito e de dignidade!!!

Canibal

Anónimo disse...

chissa que esta é das fortes

Anónimo disse...

Canibal em grande. Na mouche!!!!
Será que as vedetas deste grupo ainda não aprenderam que chegar à frente não é sinónimo de ganhar. No dia em que deixarem de olhar para o próprio umbigo e não encararem as voltas de domingo como corridas, o grupo será mais forte.